Os dois constituintes imediatos
da oração são o sujeito e o predicado e como já falamos sobre o sujeito,
vejamos, então, o predicado. Este, na organização sintática de uma oração, diz
respeito ao que não faz parte do sujeito.
Embora não haja uma posição
definida entre muitos gramáticos com relação ao sintagma verbal, entendemos que
ele compõe o predicado.
Nesse sentido, Azeredo (2001,
p.52) afirma:
(...)Pensamos
ser mais conveniente falar em subordinação do objeto, não ao verbo que o rege,
mas ao conjunto a que verbo e objeto pertencem: o SV predicado. Com efeito, o
verbo transitivo (ou intransitivo) não é o predicado – função exercida pelo SV
– mas constituinte dele, seu núcleo, e o objeto outro constituinte, porém
subordinado.
Verificamos, então, que o “SV
predicado”, como denomina o autor, pode ser constituído de um verbo sem
complemento obrigatório ou de um verbo que exija complemento obrigatório, o que
fará parte desse sintagma que, por sua vez, constitui o predicado da oração.
(1) O
chefe do departamento resolveu o problema.
No exemplo (1), ao identificarmos
os constituintes da oração, temos “o chefe do departamento” como sujeito e
“resolveu o problema” como predicado. Neste último, observemos que o verbo é
“resolveu” e ele exige um complemento, no caso, “o problema”. Assim, ilustramos
o conceito de SV predicado proposto por Azeredo, em que o verbo pode se
encontrar acrescido de um complemento obrigatório (como no exemplo) ou de um
adjunto (que não é um complemento obrigatório).
A predicação está ligada ao
comportamento dos verbos em seu interior. Por isso, há gramáticas que
classificam o predicado conforme o tipo de verbo. Para a caracterização desses
verbos, todavia, torna-se necessário levar em conta sua carga semântica na
oração.
Nesse
sentido, segundo Sautchuk (2004), há verbos que têm 100% de carga semântica,
como há os que apresentam 0% dessa carga. Nessa equivalência, temos os verbos
denominados intransitivos (não necessitam de complemento) e os de ligação (sem
carga semântica). Ainda há os verbos que exigem um complemento, portanto não
têm 100% de carga semântica, mas também não são apenas de ligação. Estes se
denominam transitivos.
Os verbos transitivos, de acordo
com suas regências (com ou sem preposição), podem ser classificados em
transitivos indiretos ou transitivos diretos. O primeiro grupo relaciona-se aos
verbos que são regidos de preposição, já o segundo grupo está relacionado aos
verbos não regidos de preposição.
(2) As pessoas precisam de um
esclarecimento.
(3) As pessoas exigem um
esclarecimento.
Entre os exemplos (2) e (3), a
diferença está na regência do verbo. No primeiro, o verbo é regido da
preposição “de”, portanto um verbo transitivo indireto, o que não ocorre no
segundo exemplo, em que, inversamente, o verbo não é regido de preposição, por
isso um verbo transitivo direto. Os complementos para esses verbos são
denominados objeto indireto e objeto direto, respectivamente.
Em ambos exemplos, o verbo não
tem 100% de carga semântica, seu sentido termina no complemento, o qual é
chamado de objeto (indireto para o primeiro exemplo e direto para o segundo).
Ressaltamos que pode ocorrer do
verbo transitivo vir acompanhado dos dois tipos de complemento obrigatório, o
objeto direto e o objeto indireto. Nesse caso, ele será classificado como
transitivo direto e indireto. Veja no exemplo a seguir.
(4) A namorada recebeu flores do
namorado.
No exemplo (4) o verbo “recebeu”
tem como complementos “flores” e “do namorado”, portanto os dois tipos de
complemento, um não regido de preposição (objeto direto) e outro regido de
preposição (objeto indireto). Daí a classificação do verbo em transitivo direto
e indireto.
O verbo que tem 100% de carga
semântica, como já foi dito, não é acompanhado de complemento obrigatório
(objeto), mas pode vir acompanhado de complemento não obrigatório, um adjunto.
(5) Todos os presentes saíram
logo da reunião.
No exemplo
(5), o verbo “saíram” não exige complemento, pois o sentido está completo.
Entretanto, os sintagmas “logo” e “da reunião” indicam, respectivamente,
circunstâncias de tempo e de lugar. Essas circunstâncias são representadas por
sintagmas que têm a função de adjunto adverbial, pois modificam o verbo, que
representa a ação. A classificação desse verbo é de intransitivo.
As
gramáticas que dão classificação ao predicado, consideram esses
casos, em que o verbo é transitivo ou intransitivo, como predicado verbal, uma
vez que o verbo tem carga semântica (completa ou incompleta) e, por isso,
torna-se o núcleo desse predicado. Daí a classificação como predicado verbal.
Quanto aos verbos que têm 0% de
carga semântica, estes são considerados meros relatores, isto é, exercem a
função de relacionar/ligar o sujeito a um outro sintagma, o qual geralmente tem
a função de modificar o sujeito. A esse tipo de predicado, as gramáticas dão a
classificação de predicado nominal.
(6) Os vencedores estavam
felizes.
No exemplo (6), o verbo “estavam”
não tem carga semântica, ele cumpre a função de relacionar o sujeito “os
vencedores” a “felizes”, que tem a função de modificar o sujeito, dando-lhe uma
característica. Portanto, o verbo é vazio de sentido e classifica-se como verbo
de ligação. O complemento desse tipo de verbo, o de ligação, também se torna
obrigatório e é classificado como Predicativo do Sujeito (PS).
Há gramáticas que oferecem uma
lista de verbo de ligação, mas memorizar essa lista pode não ser eficaz, visto
que, de acordo com o contexto, um verbo que seria de ligação pode deixar de
ser.
(7) Os convidados estavam na
sala.
Observemos
que o exemplo (7) gera polêmica em sua classificação. Podemos afirmar que não é
um verbo de ligação por não estar relacionando apenas o sujeito a uma
característica sua.
No entanto, a gramática
tradicional classifica esse verbo como intransitivo, o que gera dúvida, porque
seu sentido não parece encerrar-se no verbo. Na construção sintática dessa
oração, o sentido do verbo parece terminar em seu adjunto adverbial “na sala”.
Para tanto, Sautchuk propõe uma nova classificação. Como o verbo termina seu
sentido no adjunto adverbial, a autora sugere que ele seja classificado como
“transadverbial”. Essa classificação parece-nos coerente.
Agora, vamos novamente fazer uma
parada para revisitarmos tudo o que foi exposto até agora. Para tal, leia e
reflita sobre o quadro acima.
Características
morfossintáticas dos complementos verbais
Acabamos de
ver os complementos obrigatórios do verbo, ou seja, os objetos – direto e
indireto – e o predicativo do sujeito. Os primeiros articulam-se a um verbo
transitivo, cujo sentido é incompleto e exige o complemento, regido ou não de
preposição. Já o segundo, o predicativo do sujeito, articula-se ao verbo de
ligação, complementando o predicado, visto que esse tipo de verbo apenas
relaciona o sujeito ao seu complemento.
Veremos, então, algumas
características morfossintáticas desses complementos, a fim de facilitar a
identificação desses elementos na oração. Depois veremos outros complementos
verbais, ou seja, os complementos não obrigatórios que também podem ocorrer na
oração.
Assim como apresentamos o método
prático para localizar o sujeito na oração, sugerido por Sautchuk, veremos que
o Objeto Direto (OD) também apresenta peculiaridades
que possibilitam sua identificação.
A primeira delas é que a natureza
morfológica do OD é substantiva, isto é, ele é representado por um sintagma
nominal. Este pode ser substituído por um pronome pessoal (assim como o
sujeito), mas por ocupar a posição C (na estrutura SVC), deve ser substituído
por um pronome pessoal oblíquo.
(8) O povo perdeu a esperança.
(?)
Sim,
o povo perdeu-a.
Veja que
utilizando o método de transformar a oração em pergunta e, ao respondê-la,
substituir o sintagma pelo pronome pessoal, o sintagma “a esperança” foi
trocado por “a”, uma vez que ocupa a posição C e, portanto, é o objeto da
oração. De acordo com a norma culta, pronome pessoal reto não pode ocupar a
posição C, então não poderia ser: “Sim, o povo perdeu ela”. Esse
tipo de pronome apenas pode ocupar a posição S (de sujeito).
Outra característica importante
para identificar o objeto direto é que o sintagma nominal que o representa é
autônomo (e não interno). Além disso, o pronome oblíquo que pode substituí-lo
deve concordar em gênero/número com o núcleo do objeto.
Outro método sugerido pela autora
para confirmar se o termo analisado é objeto direto é o de transformar a oração
em voz passiva. Assim, veremos que o objeto é um “sujeito disfarçado”.
(9) O
povo perdeu a esperança./ A esperança foi perdida pelo povo.
No exemplo (9), ao passarmos a
oração para a voz passiva, o objeto direto (na voz ativa) torna-se sujeito da
oração (na voz passiva). Por isso, dizemos que o objeto é um “sujeito
disfarçado”.
Quanto ao Objeto Indireto (OI),
este é representado por um sintagma preposicionado (o que pode confundi-lo com
o adjunto adverbial) e é obrigatório na oração. Pode ser também substituído por
um pronome oblíquo – lhe(s) – principalmente quando regido por preposição “a”.
As preposições mais comuns como introdutórias desse tipo de sintagma são “em,
a, para, de, com, por”.
Como pode ser confundido
como adjunto adverbial, ressaltamos que este, apesar de ser também
representado por um sintagma preposicionado, não é obrigatório na oração, mas
acessório, ao passo que o OI é obrigatório.
(10) Sugeri
ao menino um banho.
(11) Sairemos
ao amanhecer.
Em (10) o sintagma preposicionado
“ao menino” é complemento obrigatório do verbo e, portanto, objeto indireto. Já
no exemplo (11), o sintagma “ao amanhecer”, embora seja preposicionado, não é
obrigatório, pois o verbo já tem 100% de carga semântica, por isso tem a função
de adjunto adverbial, uma vez que se trata de uma circunstância de tempo que
modifica o verbo.
O Predicativo do Sujeito (PS)
enquanto complemento obrigatório, articula-se a um verbo de ligação. Todavia,
esse tipo de complemento pode ocorrer com verbos que não sejam de ligação, como
um complemento acidental na oração.
(12) Os meninos pareciam
agitados.
(13) Os meninos chegaram
agitados.
Na oração do exemplo (12), o
sintagma que corresponde ao predicativo do sujeito, “agitados”
(de natureza adjetiva), é obrigatório, tendo em vista o verbo “pareciam” ser de
ligação. Já em (13), o verbo “chegaram” é intransitivo, o que torna o
predicativo acidental, circunstancial e não obrigatório.
As gramáticas tradicionais,
inclusive, classificam esse tipo de predicado (que apresenta verbo
intransitivo/transitivo e predicativo do sujeito) como predicado verbo-nominal,
pelo fato de apresentar um verbo significativo, que é núcleo do predicado
verbal, e um outro sintagma que corresponderia ao núcleo do predicado nominal
(segundo o ponto de vista da gramática tradicional).
Não vamos, entretanto, ater-nos a
essa classificação do predicado. O importante é entendermos a articulação dos
verbos que se encontram no interior dele.
Retomando o predicativo
do sujeito, verificamos que o sintagma que corresponde a ele também é
autônomo (e não interno) e por ser de natureza adjetiva, normalmente é
representado por um sintagma adjetival, o que não impede que seja representado
por outro tipo de sintagma (nominal, por exemplo), mas que tenha característica
adjetiva.
(14) A festa foi horrível.
(15) A festa foi um fracasso.
Em (14), o sintagma que
representa o predicativo do sujeito – “horrível” – é adjetival. No entanto, em
(15), o sintagma “um fracasso” é nominal, mas equivale a um adjetivo em relação
ao sujeito “A festa”.
Assim como predicativo do
sujeito, pode haver Predicativo do Objeto (PO) na
oração. Este tem as mesmas características do predicativo do sujeito, com a
diferença de articular-se ao objeto e não ao sujeito.
Os verbos que apresentam esse
tipo de predicação são denominados “transobjetivos” por Sautchuk (2004). São
eles: eleger, encontrar, julgar, nomear, considerar, proclamar, achar.
(16) Considero esse garoto um
chato.
Veja que no exemplo (16), o
sintagma “um chato” é um sintagma autônomo, de natureza adjetiva, mas se refere
ao objeto direto “esse garoto” e não ao sujeito da oração, que está oculto
(“eu”). Portanto, esse sintagma representa o predicativo do objeto e não o
predicativo do sujeito.