sábado, 10 de novembro de 2012

Orações subordinadas

Seguindo o critério apresentado inicialmente, de relacionar as orações subordinadas às funções exercidas pelos sintagmas que as representam, segundo propõe Sautchuk (2004), uma oração adjetiva tem a função que um sintagma adjetival teria em um período simples, as quais são de predicativo ou de adjunto adnominal.

Para exemplificarmos, vamos iniciar por um período simples e depois faremos sua correspondência a um período composto.

(6) O pedestre, muito tranquilo, atravessou a rua tumultuada.

No exemplo (6), temos dois sintagmas de natureza adjetiva. O primeiro é um sintagma autônomo, “muito tranquilo” e o segundo é um sintagma adjetival interno ao sintagma nominal “a rua tumultuada”.

Observemos que uma forma de diferenciar o predicativo do adjunto adnominal é essa característica do sintagma ser autônomo ou interno. Ambos sintagmas adjetivais têm a função de modificadores do substantivo, mas um constitui um sintagma independente e o outro encontra-se dentro de outro sintagma.

Essa característica diferenciadora assegura-nos a classificação de predicativo do sujeito para o sintagma autônomo “muito tranquilo” e de adjunto adnominal para “tumultuada” no sintagma “a rua tumultuada”.

Esse mesmo período poderia ser transformado em um período composto:

O pedestre, que estava tranquilo, atravessou a rua que era tumultuada.

Apesar da nova construção do período, manteve-se seu sentido e a classificação para as orações é de subordinada adjetiva explicativa para a primeira e de subordinada adjetiva restritiva para a segunda.

A primeira oração, adjetiva explicativa, assim como o predicativo do sujeito, corresponde a um sintagma autônomo, de natureza adjetiva. Já a segunda, adjetiva restritiva, corresponde a um sintagma adjetival interno.

Do ponto de vista semântico, como afirma Sautchuk (2004, p.123):

Tanto no período simples como no composto, o predicativo do sujeito e a oração adjetiva explicativa indicam um estado ou uma característica acidental do núcleo (...); o adjunto adnominal e a oração restritiva indicam uma característica intrínseca ao núcleo. 

Como o sintagma que corresponde ao predicativo é independente, autônomo, da mesma forma a oração adjetiva explicativa destaca-se na oração pelo seu isolamento e isso é marcado pela pontuação, como o uso de vírgulas, por exemplo.

Já a oração adjetiva restritiva, como o sintagma equivalente (adjunto adnominal), não se apresenta isolada, ao contrário, está diretamente ligada a um núcleo substantivo e, por isso, não se coloca entre vírgulas (ou outro tipo de pontuação que a isole).

Alguns gramáticos até denominam as orações adjetivas de relativas, pelo fato delas serem introduzidas por um pronome relativo (que, quem, o(a) qual, os(as) quais, cujo(a), cujos(as), onde).

O pronome relativo, por sua característica anafórica, ou seja, de retomada de um termo antecedente, exerce sempre uma função sintática na oração que introduz.

(7) Encontrei o vídeo que procurava.

No exemplo (7), “que” é o pronome relativo que introduz a oração adjetiva restritiva “que procurava”. Esse pronome pode, inclusive, ser substituído por “o qual”. Além disso, está retomando “o vídeo”, sintagma da oração anterior que tem a função de objeto direto. Então, se substituíssemos o pronome relativo pelo sintagma anterior, como se fosse um período simples, a oração assim ficaria:

Procurava o vídeo.

Nessa oração transformada, “o vídeo” complementa o verbo “procurava”, para o qual o sujeito está oculto (eu). Portanto, “que” na oração tem a função de objeto direto.

Orações subordinadas adverbiais

As orações adverbiais, assim como os sintagmas adverbiais, têm a função de modificar o verbo, indicando-lhe uma circunstância. Dessa forma, essas orações classificam-se de acordo com a circunstância que indicarem em relação à oração principal.  

Por exemplo, se tivéssemos a seguinte oração:

O cão dorme tranquilo.

Poderíamos acrescentar-lhe circunstâncias em forma de orações:

(8) Enquanto varro a sala, o cão dorme tranquilo.
(9) O cão dorme tranquilo onde há uma cama.
(10) O cão dorme tranquilo porque está cansado.
(11) Apesar de ser dia, o cão dorme tranquilo.

Observando cada exemplo, vejamos as circunstâncias que cada oração acrescentada (que forma com a principal um período composto) indica para classificá-las.

No exemplo (8), a oração “enquanto varro a sala” indica uma circunstância de tempo em relação à principal, por isso a sua classificação é de subordinada adverbial temporal.

Da mesma forma, no exemplo (9), a oração “onde há uma cama” indica o local da ação da oração principal, daí sua classificação em subordinada adverbial locativa.

Já no exemplo (10), a circunstância indicada pela oração subordinada é de causa em relação à informação da oração principal, por isso trata-se de uma adverbial causal.

Finalmente, no exemplo (11) há ideia de concessão (ou contradição na lógica) introduzida pela oração. Esta se classifica como oração subordinada adverbial concessiva.

Assim, é a ideia circunstancial que determinará a classificação desse tipo de oração, como pudemos observar em cada exemplo. Essa ideia, se estivesse expressa em período simples, seria estabelecida pela relação sintática de um adjunto adverbial na oração. É por esse motivo que as orações desse grupo são denominadas adverbiais.

Orações sindéticas

A gramática tradicional denomina “sindéticas” as orações que têm conjunção, pois esta recebe também o nome de síndeton, daí a denominação. E são essas conjunções coordenativas que designam a classificação para as orações.

De acordo com Bechara (2001), são três as relações estabelecidas pelas conjunções coordenativas (ou conectores):

1. Aditiva: adiciona orações.

   Ex.: Entrou e sentou-se no sofá.

Em orações negativas, a conjunção “e” pode ser substituída por “nem”:

João não comeu nem bebeu em casa.

2. Adversativa: contrapõe o conteúdo de uma oração em relação à outra.

Ex.: Procurei o meu brinco, mas não o encontrei.

As conjunções adversativas mais comuns são “mas”, “porém”, “senão” (após conteúdo negativo).

3. Alternativa: contrapõe o conteúdo de uma oração ao de outra, com a ideia de exclusão de um em relação ao outro, ou seja, de escolha, de alternativa.

Ex.: Entra ou sai da porta.

A gramática tradicional relaciona, ainda, orações coordenadas que apresentam conjunções conclusivas, explicativas e causais.

Para Bechara, entretanto, esses valores estabelecidos por essas conjunções têm semelhança com as orações subordinadas e encontram-se no nível do sentido do texto, ultrapassando os limites de fronteira da oração.

Assim como há orações coordenadas introduzidas por conjunções, há períodos em que elas se justapõem, ou seja, em que elas encontram-se ligadas sem marcas linguísticas, apenas distintas pela pontuação. É o que a gramática tradicional denomina oração coordenada assindética (= sem conjunção). Esse procedimento de enlace das orações pode ser chamado de justaposição.

Exemplificando:
  
Dirigiu-se à porta, abriu-a, saiu. Ninguém na rua. Voltou para casa.

As orações substantivas têm funções exercidas pelo sintagma nominal, as adjetivas pelo sintagma adjetival e as adverbiais pelosintagma adverbial.

É com base nesse critério que veremos a classificação das orações subordinadas em cada grupo.

Orações subordinadas substantivas

Se a oração substantiva equivale a um sintagma nominal, ela exercerá a função que este teria na oração complexa (ou período composto por subordinação) em que se encontra.  

Por exemplo:

(4) Esperamos que você venha.

Ao dividirmos o período, temos a oração principal “Esperamos” e a subordinada “(que) você venha”.

Se substituíssemos a oração por um sintagma nominal, poderíamos obter “Esperamos sua vinda”. Tornando-se um período simples, neste poderíamos identificar seus elementos: sujeito oculto (nós); verbo transitivo direto -  “esperamos”; objeto direto - “sua vinda”.

A partir das funções que podem exercer o sintagma nominal, elaboramos, a seguir, um quadro para a classificação das orações subordinadas substantivas.

Função
Classificação
Exemplo
Sujeito
Substantiva subjetiva
É certo que eu irei.
Objeto direto
Subst. objetiva direta
Ela não viu que eu cheguei.
Objeto indireto
Subst. objetiva indireta
Eu necessito de que alguém me ajude.
Complemento nominal
Subst.completiva nominal
Tenho necessidadede que alguém me ajude.
Predicativo
Subst. predicativa
O fato foi que tudo terminou.
Aposto
Subst. apositiva
Tenho uma certeza:que tudo terminou bem.


A fim de facilitar a classificação das orações subordinadas substantivas, apresentamos um método prático, proposto por alguns estudiosos da gramática.

Trata-se de substituir a oração subordinada pelo pronome “isso” e, a partir da substituição, observar que função assumiria em um período simples.

Vejamos:

(5) Convém que você venha.

Substituindo a oração subordinada:

Convém isso.

Se colocarmos a oração transformada na ordem direta (SVC), obtemos:

Isso convém.

Assim, observamos que a oração equivale a um sintagma que tem a função de sujeito da oração. Portanto, essa oração deve ser classificada como subordinada substantiva subjetiva.

É importante ressaltar que as orações substantivas são introduzidas normalmente pela conjunção integrante “que”. Quando indica uma incerteza, um questionamento, o que pode ser substituído por “se”:

Não sei se ela virá.

Períodos composto por coordenação e por subordinação

Lembrando a hierarquia gramatical enquanto descrição da língua que, do menor para o maior elemento, varia do morfema ao texto (morfema – palavra – sintagma – oração/período – texto), veremos o período composto nesta unidade.

Como já vimos também, cada verbo pressupõe a existência de uma oração. Portanto, a partir de dois ou mais verbos, temos um período composto. Este pode ser articulado por dois processos: a coordenação e a subordinação.

O processo de coordenação diz respeito à organização em que as orações têm uma equivalência, isto é, há um paralelismo e não uma hierarquia de informações veiculadas pelas orações que compõem o período. Bechara (2001, p. 48) classifica esse processo como parataxe:

Consiste a parataxe na propriedade mediante a qual duas ou mais unidades de um mesmo estrato funcional podem combinar-se nesse mesmo nível para constituir, no mesmo estrato, uma nova unidade suscetível deste estrato. Portanto, o que caracteriza a parataxe é a circunstância de que unidades combinadas são equivalentes do ponto de vista gramatical.

Já no processo de subordinação, há uma hierarquia na qual existe sobreposição de uma oração em relação à outra, daí o conceito de oração subordinada em relação à principal. É o que Bechara (2001,p. 47) denomina hipotaxe:

A hipotaxe (...) consiste na possibilidade de uma unidade correspondente a um estrato superior poder funcionar num estrato inferior, ou em estratos inferiores. É o caso de uma oração passar a funcionar como ‘membro’ de outra oração, particularidade muito conhecida em gramática.

Ressaltamos, ainda, que os limites do período são estabelecidos por pontuações finais (., !, ?, ...). Assim, podemos verificar, primeiramente, o número de orações e de períodos no exemplo seguinte.

(1) Havia harmonia no ambiente. Os quadros estavam bem colocados, a mesa foi bem arrumada pela mulher e um perfume agradável dominava o ambiente.

Podemos dizer que há dois períodos no parágrafo e este é composto por quatro orações ao todo, sendo uma no primeiro período e três no segundo. Os períodos encontram-se delimitados pelos pontos finais, enquanto as orações podem ser localizadas pelos verbos “havia”, “estavam”, “foi” e “dominava”. Esse é o método mais simples para se identificar períodos e orações.

Quanto aos processos de coordenação (parataxe) ou subordinação (hipotaxe), em um texto podemos encontrá-los mistos na organização dos parágrafos. Por isso, o que interessa é compreender como esses mecanismos funcionam; além de saber identificá-los para a descrição linguística do texto.

Vejamos um exemplo:

Quando eu entrei no quarto/, abri a gaveta/ e descobri/ que o meu anel sumiu.

Nesse período, que já se encontra segmentado pelas barras, vamos verificar a relação sintática entre as orações. Para efeito de descrição, chamemos de (a) a primeira, de (b) a segunda, (c) a terceira e (d) a quarta oração.

Entre as orações (a) e (b) há uma relação de subordinação, em que a oração (b) é principal em relação à (a) e esta equivale a uma circunstância de tempo, e então se classifica como subordinada adverbial. A oração (c) é coordenada em relação à (b), introduzida pela conjunção aditiva “e”, daí sua classificação em oração coordenada sindética (aditiva). Já a oração (d) corresponde a um sintagma que complementa a oração anterior (c), e equivale ao objeto direto da oração anterior, portanto é uma oração subordinada substantiva.

Isso posto, passaremos a tratar separadamente de cada tipo de processo de organização sintática – coordenação e subordinação – para efeitos didáticos de compreensão, lembrando que em um texto esses mecanismos diversificam-se, havendo períodos, parágrafos em que ambos se encontram.

Período composto por coordenação

No período composto por coordenação, há uma independência entre as orações pelo fato delas apresentarem-se completas, isto é, terem todos os termos sintáticos previstos na relação predicativa (ao contrário das orações complexas ou período composto por subordinação).

Todavia, embora não aparente, a coordenação é um processo mais complexo, tendo em vista que muitas vezes envolve fatores semânticos e cognitivos, pois se analisarmos, por exemplo, dois enunciados semelhantes, como:

(2) Estudei bastante e fui aprovada.

(3) Estudei bastante e fui reprovada.

temos dois exemplos que apresentam a mesma estrutura sintática. São duas orações, havendo na segunda um conector “e” como ligação entre elas. No entanto, observando-as semanticamente, no exemplo (2) a segunda oração tem um valor positivo em relação à primeira, ao passo que no exemplo (3) a segunda tem valor negativo em relação à primeira.

Para Bechara (2001), entretanto, essa conclusão não está no uso do conector “e”, que, do ponto de vista sintático, tem por função adicionar uma informação à outra. É esse o papel que exerce em ambos exemplos, portanto, podemos entender que essa conjunção (=conector) é aditiva.

A gramática tradicional denomina “sindéticas” as orações que têm conjunção, pois esta recebe também o nome desíndeton, daí a denominação. E são essas conjunções coordenativas que designam a classificação para as orações.

No próximo módulo veremos a classificação dessas orações.

Período composto por subordinação

O período composto por subordinação é também visto como uma oração e/ou sintagma complexo, como define Perini (2005, p.148):

Chamaremos sintagma complexo um sintagma que encerra, como um de seus constituintes imediatos ou mediatos, uma oração.

Se retomarmos o conceito de oração e seus constituintes que vimos no estudo do período simples, verificaremos que em um período desse tipo as orações que correspondem às subordinadas exercem funções dos sintagmas representados por substantivos, adjetivos e advérbios.

Nesse sentido, afirma Perini (2005, p.149):

Em princípio, um sintagma complexo pode ocupar as mesmas funções que um sintagma simples da mesma classe. (...) Assim, um SN simples pode ser sujeito, objeto direto etc., e um SN complexo pode desempenhar exatamente as mesmas funções.

Assim, a partir dessa noção de sintagma, podemos relacionar os grupos de orações subordinadas às funções dos sintagmas que representam. As orações substantivas têm funções exercidas pelo sintagma nominal, as adjetivas pelo sintagma adjetival e as adverbiais pelo sintagma adverbial.

Funções sintáticas dos sintagmas autônomos ou internos

A partir da classificação dos sintagmas em autônomos ou internos, passamos a verificar as funções sintáticas (algumas já apresentadas) desses sintagmas na oração.

Como já foi visto, os sintagmas autônomos são os que podem ser deslocados no eixo sintagmático da oração, portanto, podemos, a grosso modo, dizer que eles “têm vida própria”. É o que acontece com sintagmas que têm a função de sujeito, de objeto (direto ou indireto), de predicativo (do sujeito ou do objeto), de agente da passiva, de adjunto adverbial, de aposto e de vocativo.

Quanto aos sintagmas internos, estes se encontram subordinados a outros sintagmas, visto que se encontram dentro deles e, por isso, não podem ser deslocados na oração. É o caso do adjunto adnominal e do complemento nominal.

Dentre os autônomos, ainda não tratamos de alguns que serão apresentados a seguir, como o agente da passiva, o aposto e ovocativo. Os demais se encontram já descritos anteriormente.

Quando a oração encontra-se na voz passiva, há um novo constituinte dessa oração, que se denomina agente da passiva. Vejamos o exemplo que segue.

(1) O espetáculo foi apresentado pelo locutor.

No exemplo, temos como sujeito “o espetáculo”. Todavia, essa oração encontra-se na voz passiva analítica, em que a estrutura é: sujeito + verbo auxiliar + verbo principal na forma nominal particípio + agente da passiva.

Portanto, o sintagma “pelo locutor” tem a função de agente da passiva. As características desse sintagma são: sintagma preposicionado, introduzido pela preposição por (pelo = per < por + o), autônomo.

Vejamos, então, as funções de aposto e vocativo dos sintagmas autônomos, as quais ainda não foram tratadas. Segundo a gramática tradicional, esses termos são acessórios na oração. 

aposto é representado, geralmente, por um sintagma de natureza substantiva e ele tem a função de explicar, resumir ou desenvolver outro termo sintático já existente na oração. Muitas vezes ele é confundido com o sujeito ou com o predicativo do sujeito. Vejamos nos exemplos como ele pode apresentar-se.

(2) Brasília, a capital do Brasil, é uma cidade plana.

(3) Crianças, jovens, adultos, todos, pareciam muito irritados.

No exemplo (2), o sintagma que representa o aposto é “a capital do Brasil”. Nessa oração, o sujeito é “Brasília”, portanto o aposto está retomando o sujeito, seria dispensável, daí a sua característica de termo acessório. O sintagma tem como núcleo “capital”, portanto é de base morfológica substantiva e é autônomo, sendo destacado, inclusive, pela pontuação.

Quanto ao exemplo (3), neste o termo “todos” resume todos os outros que representam o sujeito “crianças, jovens, adultos”. Ele seria também dispensável na oração. Assim como no exemplo anterior, é um sintagma de natureza substantiva, autônomo e um complemento não obrigatório na oração.

A natureza substantiva do sintagma que representa o aposto é uma das características que o diferencia do predicativo do sujeito, cujo sintagma é de natureza adjetiva.

Outro termo representado por sintagma autônomo, porém não necessário em uma oração, é o vocativo. Esse termo tem por função apenas invocar, chamar a atenção do interlocutor. O sintagma que o representa é de natureza substantiva e, assim como o aposto, é destacado pela pontuação, tornando-o isolado na oração; por isso muitas vezes os dois termos são confundidos em sua classificação. Vejamos um exemplo.

(4) Meu filho, seja forte nessa hora.

O sujeito no exemplo (4) encontra-se oculto e pode ser identificado como “você”. Então, o sintagma “meu filho” representa a forma utilizada para chamar a atenção do interlocutor. Sendo assim, trata-se do vocativo da oração, que seria desnecessário na sua estrutura.

Tendo tratado dos sintagmas autônomos, resta-nos tratar dos sintagmas internos que ainda não foram descritos, ou seja, do adjunto adnominal e do complemento nominal.

Assim como o aposto e o vocativo, o adjunto adnominal é acessório, isto é, embora seja um sintagma interno (está subordinado a outro sintagma), ele não é um complemento obrigatório na oração.

Além disso, outra característica desse termo é que, por ser um sintagma interno, está sempre preso a um núcleo substantivo. Portanto, uma oração pode apresentar tantos adjuntos adnominais quantos forem os núcleos substantivos.

Do ponto de vista morfológico, os adjuntos adnominais são representados por determinantes ou modificadores do substantivo. Vejamos exemplos.

(5) As duas meninas de azul oferecerem uma rosa à mulher de preto.

Nesse exemplo (5), vamos, primeiramente, isolar os sintagmas autônomos que tenham como núcleo substantivos. São eles:

(a) As duas meninas de azul
(b) uma rosa
(c) à mulher de preto

Em (a) o núcleo é “meninas”, portanto, “as”, “duas” e “de azul” são adjuntos adnominais, pois o primeiro termo determina o gênero e o número do substantivo, enquanto o segundo quantifica-o e o terceiro modifica-o.

No sintagma (b), o núcleo é o substantivo “rosa”, cujo gênero e número são determinados por “uma”, que representa o adjunto adnominal.

E no sintagma (c), para o núcleo “mulher”, temos como adjuntos adnominais “à” (contração da preposição a (=para) + artigo a) - lembrando que a preposição é apenas um relator, não tem função sintática – e o sintagma “de preto”, que tem a função de modificador do substantivo.

complemento nominal, embora seja também um sintagma interno, diferencia-se do adjunto adnominal por ser um complemento obrigatório, semelhante aos complementos verbais – objeto direto e objeto indireto.

Esse termo é sempre representado por um sintagma preposicionado (interno) exigido para complementar o sentido de algum termo da oração que seja representado por um substantivo, adjetivo ou advérbio, regidos de preposição.

Quando ele complementa um substantivo, pode ser confundido como o adjunto adnominal. Por isso, nesse caso, o valor semântico pode ser mais decisivo para a classificação de um ou outro. Entretanto, uma característica acentuada é o complemento nominal ser uma nominalização de um verbo transitivo, o que, todavia, não assegura a sua classificação em casos polêmicos.

Vejamos alguns exemplos.

(6) O retorno dos amigos é sempre uma alegria.
(7) Você foi a salvação de todos.
(8) A saída do show foi tumultuada.
(9) Vamos ouvir a execução da sentença.

Nos exemplos anteriores, podemos transformar os nomes em verbos: em (6), temos “os amigos retornaram”; em (7), “todos se salvaram”; em (8), “saíram do show”; em (9), “a sentença executou-se (ou foi executada)”. Então, em cada exemplo, respectivamente, os complementos nominais são: “dos amigos”, “de todos”, “do show” e “da sentença”.

Predicado e complementos verbais


Os dois constituintes imediatos da oração são o sujeito e o predicado e como já falamos sobre o sujeito, vejamos, então, o predicado. Este, na organização sintática de uma oração, diz respeito ao que não faz parte do sujeito.

Embora não haja uma posição definida entre muitos gramáticos com relação ao sintagma verbal, entendemos que ele compõe o predicado.

Nesse sentido, Azeredo (2001, p.52) afirma:

(...)Pensamos ser mais conveniente falar em subordinação do objeto, não ao verbo que o rege, mas ao conjunto a que verbo e objeto pertencem: o SV predicado. Com efeito, o verbo transitivo (ou intransitivo) não é o predicado – função exercida pelo SV – mas constituinte dele, seu núcleo, e o objeto outro constituinte, porém subordinado.

Verificamos, então, que o “SV predicado”, como denomina o autor, pode ser constituído de um verbo sem complemento obrigatório ou de um verbo que exija complemento obrigatório, o que fará parte desse sintagma que, por sua vez, constitui o predicado da oração.

(1)           O chefe do departamento resolveu o problema.

No exemplo (1), ao identificarmos os constituintes da oração, temos “o chefe do departamento” como sujeito e “resolveu o problema” como predicado. Neste último, observemos que o verbo é “resolveu” e ele exige um complemento, no caso, “o problema”. Assim, ilustramos o conceito de SV predicado proposto por Azeredo, em que o verbo pode se encontrar acrescido de um complemento obrigatório (como no exemplo) ou de um adjunto (que não é um complemento obrigatório).

A predicação está ligada ao comportamento dos verbos em seu interior. Por isso, há gramáticas que classificam o predicado conforme o tipo de verbo. Para a caracterização desses verbos, todavia, torna-se necessário levar em conta sua carga semântica na oração.

Nesse sentido, segundo Sautchuk (2004), há verbos que têm 100% de carga semântica, como há os que apresentam 0% dessa carga. Nessa equivalência, temos os verbos denominados intransitivos (não necessitam de complemento) e os de ligação (sem carga semântica). Ainda há os verbos que exigem um complemento, portanto não têm 100% de carga semântica, mas também não são apenas de ligação. Estes se denominam transitivos.

Os verbos transitivos, de acordo com suas regências (com ou sem preposição), podem ser classificados em transitivos indiretos ou transitivos diretos. O primeiro grupo relaciona-se aos verbos que são regidos de preposição, já o segundo grupo está relacionado aos verbos não regidos de preposição.

(2) As pessoas precisam de um esclarecimento.

(3) As pessoas exigem um esclarecimento.

Entre os exemplos (2) e (3), a diferença está na regência do verbo. No primeiro, o verbo é regido da preposição “de”, portanto um verbo transitivo indireto, o que não ocorre no segundo exemplo, em que, inversamente, o verbo não é regido de preposição, por isso um verbo transitivo direto. Os complementos para esses verbos são denominados objeto indireto e objeto direto, respectivamente.

Em ambos exemplos, o verbo não tem 100% de carga semântica, seu sentido termina no complemento, o qual é chamado de objeto (indireto para o primeiro exemplo e direto para o segundo).

Ressaltamos que pode ocorrer do verbo transitivo vir acompanhado dos dois tipos de complemento obrigatório, o objeto direto e o objeto indireto. Nesse caso, ele será classificado como transitivo direto e indireto. Veja no exemplo a seguir.

(4) A namorada recebeu flores do namorado.

No exemplo (4) o verbo “recebeu” tem como complementos “flores” e “do namorado”, portanto os dois tipos de complemento, um não regido de preposição (objeto direto) e outro regido de preposição (objeto indireto). Daí a classificação do verbo em transitivo direto e indireto.

O verbo que tem 100% de carga semântica, como já foi dito, não é acompanhado de complemento obrigatório (objeto), mas pode vir acompanhado de complemento não obrigatório, um adjunto.

(5) Todos os presentes saíram logo da reunião.

No exemplo (5), o verbo “saíram” não exige complemento, pois o sentido está completo. Entretanto, os sintagmas “logo” e “da reunião” indicam, respectivamente, circunstâncias de tempo e de lugar. Essas circunstâncias são representadas por sintagmas que têm a função de adjunto adverbial, pois modificam o verbo, que representa a ação. A classificação desse verbo é de intransitivo.

As gramáticas que dão classificação ao predicado, consideram esses casos, em que o verbo é transitivo ou intransitivo, como predicado verbal, uma vez que o verbo tem carga semântica (completa ou incompleta) e, por isso, torna-se o núcleo desse predicado. Daí a classificação como predicado verbal.

Quanto aos verbos que têm 0% de carga semântica, estes são considerados meros relatores, isto é, exercem a função de relacionar/ligar o sujeito a um outro sintagma, o qual geralmente tem a função de modificar o sujeito. A esse tipo de predicado, as gramáticas dão a classificação de predicado nominal.

(6) Os vencedores estavam felizes.

No exemplo (6), o verbo “estavam” não tem carga semântica, ele cumpre a função de relacionar o sujeito “os vencedores” a “felizes”, que tem a função de modificar o sujeito, dando-lhe uma característica. Portanto, o verbo é vazio de sentido e classifica-se como verbo de ligação. O complemento desse tipo de verbo, o de ligação, também se torna obrigatório e é classificado como Predicativo do Sujeito (PS).

Há gramáticas que oferecem uma lista de verbo de ligação, mas memorizar essa lista pode não ser eficaz, visto que, de acordo com o contexto, um verbo que seria de ligação pode deixar de ser.

(7) Os convidados estavam na sala.

Observemos que o exemplo (7) gera polêmica em sua classificação. Podemos afirmar que não é um verbo de ligação por não estar relacionando apenas o sujeito a uma característica sua.

No entanto, a gramática tradicional classifica esse verbo como intransitivo, o que gera dúvida, porque seu sentido não parece encerrar-se no verbo. Na construção sintática dessa oração, o sentido do verbo parece terminar em seu adjunto adverbial “na sala”. Para tanto, Sautchuk propõe uma nova classificação. Como o verbo termina seu sentido no adjunto adverbial, a autora sugere que ele seja classificado como “transadverbial”. Essa classificação parece-nos coerente.

Agora, vamos novamente fazer uma parada para revisitarmos tudo o que foi exposto até agora. Para tal, leia e reflita sobre o quadro acima.


Características morfossintáticas dos complementos verbais

Acabamos de ver os complementos obrigatórios do verbo, ou seja, os objetos – direto e indireto – e o predicativo do sujeito. Os primeiros articulam-se a um verbo transitivo, cujo sentido é incompleto e exige o complemento, regido ou não de preposição. Já o segundo, o predicativo do sujeito, articula-se ao verbo de ligação, complementando o predicado, visto que esse tipo de verbo apenas relaciona o sujeito ao seu complemento.

Veremos, então, algumas características morfossintáticas desses complementos, a fim de facilitar a identificação desses elementos na oração. Depois veremos outros complementos verbais, ou seja, os complementos não obrigatórios que também podem ocorrer na oração.

Assim como apresentamos o método prático para localizar o sujeito na oração, sugerido por Sautchuk, veremos que o Objeto Direto (OD) também apresenta peculiaridades que possibilitam sua identificação.

A primeira delas é que a natureza morfológica do OD é substantiva, isto é, ele é representado por um sintagma nominal. Este pode ser substituído por um pronome pessoal (assim como o sujeito), mas por ocupar a posição C (na estrutura SVC), deve ser substituído por um pronome pessoal oblíquo.

(8) O povo perdeu a esperança. (?)
       Sim, o povo perdeu-a.

Veja que utilizando o método de transformar a oração em pergunta e, ao respondê-la, substituir o sintagma pelo pronome pessoal, o sintagma “a esperança” foi trocado por “a”, uma vez que ocupa a posição C e, portanto, é o objeto da oração. De acordo com a norma culta, pronome pessoal reto não pode ocupar a posição C, então não poderia ser: “Sim, o povo perdeu ela”. Esse tipo de pronome apenas pode ocupar a posição S (de sujeito).

Outra característica importante para identificar o objeto direto é que o sintagma nominal que o representa é autônomo (e não interno). Além disso, o pronome oblíquo que pode substituí-lo deve concordar em gênero/número com o núcleo do objeto.

Outro método sugerido pela autora para confirmar se o termo analisado é objeto direto é o de transformar a oração em voz passiva. Assim, veremos que o objeto é um “sujeito disfarçado”.

(9)           O povo perdeu a esperança./ A esperança foi perdida pelo povo.

No exemplo (9), ao passarmos a oração para a voz passiva, o objeto direto (na voz ativa) torna-se sujeito da oração (na voz passiva). Por isso, dizemos que o objeto é um “sujeito disfarçado”.

Quanto ao Objeto Indireto (OI), este é representado por um sintagma preposicionado (o que pode confundi-lo com o adjunto adverbial) e é obrigatório na oração. Pode ser também substituído por um pronome oblíquo – lhe(s) – principalmente quando regido por preposição “a”. As preposições mais comuns como introdutórias desse tipo de sintagma são “em, a, para, de, com, por”.

Como pode ser confundido como adjunto adverbial, ressaltamos que este, apesar de ser também representado por um sintagma preposicionado, não é obrigatório na oração, mas acessório, ao passo que o OI é obrigatório.

(10)           Sugeri ao menino um banho.

(11)           Sairemos ao amanhecer.

Em (10) o sintagma preposicionado “ao menino” é complemento obrigatório do verbo e, portanto, objeto indireto. Já no exemplo (11), o sintagma “ao amanhecer”, embora seja preposicionado, não é obrigatório, pois o verbo já tem 100% de carga semântica, por isso tem a função de adjunto adverbial, uma vez que se trata de uma circunstância de tempo que modifica o verbo.
   
Predicativo do Sujeito (PS) enquanto complemento obrigatório, articula-se a um verbo de ligação. Todavia, esse tipo de complemento pode ocorrer com verbos que não sejam de ligação, como um complemento acidental na oração.

(12) Os meninos pareciam agitados.

(13) Os meninos chegaram agitados.

Na oração do exemplo (12), o sintagma que corresponde ao predicativo do sujeito, “agitados” (de natureza adjetiva), é obrigatório, tendo em vista o verbo “pareciam” ser de ligação. Já em (13), o verbo “chegaram” é intransitivo, o que torna o predicativo acidental, circunstancial e não obrigatório.

As gramáticas tradicionais, inclusive, classificam esse tipo de predicado (que apresenta verbo intransitivo/transitivo e predicativo do sujeito) como predicado verbo-nominal, pelo fato de apresentar um verbo significativo, que é núcleo do predicado verbal, e um outro sintagma que corresponderia ao núcleo do predicado nominal (segundo o ponto de vista da gramática tradicional).

Não vamos, entretanto, ater-nos a essa classificação do predicado. O importante é entendermos a articulação dos verbos que se encontram no interior dele.

Retomando o predicativo do sujeito, verificamos que o sintagma que corresponde a ele também é autônomo (e não interno) e por ser de natureza adjetiva, normalmente é representado por um sintagma adjetival, o que não impede que seja representado por outro tipo de sintagma (nominal, por exemplo), mas que tenha característica adjetiva.

(14) A festa foi horrível.

(15) A festa foi um fracasso.

Em (14), o sintagma que representa o predicativo do sujeito – “horrível” – é adjetival. No entanto, em (15), o sintagma “um fracasso” é nominal, mas equivale a um adjetivo em relação ao sujeito “A festa”.

Assim como predicativo do sujeito, pode haver Predicativo do Objeto (PO) na oração. Este tem as mesmas características do predicativo do sujeito, com a diferença de articular-se ao objeto e não ao sujeito.

Os verbos que apresentam esse tipo de predicação são denominados “transobjetivos” por Sautchuk (2004). São eles: eleger, encontrar, julgar, nomear, considerar, proclamar, achar.

(16) Considero esse garoto um chato.

Veja que no exemplo (16), o sintagma “um chato” é um sintagma autônomo, de natureza adjetiva, mas se refere ao objeto direto “esse garoto” e não ao sujeito da oração, que está oculto (“eu”). Portanto, esse sintagma representa o predicativo do objeto e não o predicativo do sujeito.

Tipos de sujeito


SUJEITO

      A gramática tradicional normalmente refere-se ao sujeito como “um termo essencial na oração”. Essa definição pressupõe valor semântico e, como acabamos de verificar, há orações em que o sujeito pode estar ausente, por isso questionamos como ele pode ser um termo essencial.
      Há também alguns gramáticos que utilizam o método de se perguntar “quem” ou “o que” para se descobrir o sujeito da oração. No entanto, podemos obter como resposta o objeto (e não o sujeito) dessa oração. 
      Partindo do princípio de que o sujeito é uma noção gramatical e, portanto, enquanto sintagma, articula-se ao verbo da oração, concordando com ele em tempo/modo, número/pessoa, sugerimos a metodologia adotada por Sautchuk (2004) em seu manual didático. 
      Primeiramente, a autora ressalta a natureza substantiva do sujeito, visto que é sempre representado por um sintagma nominal. Em seguida, destaca a posição primeira na estrutura S V C. Essas duas características morfossintáticas são essenciais para um reconhecimento prévio do sujeito na oração.
      Veja, em:

      O pai encontrou o filho.

      Na posição S, temos “o pai” e na posição C, “o filho”. Se invertêssemos os sintagmas, obteríamos “O filho encontrou o pai”, em que na posição S passamos a ter “o filho” e na posição C, “o pai”.
      Assim, uma primeira caracterização do sujeito é a de “todo termo da oração (não preposicionado) que puder ser substituído por um pronome reto ele(s), ela(s)”(Sautchuk, 2004: 59).     
      Retomando o exemplo dado anteriormente, vejamos essas características.
      No primeiro exemplo, temos S= O pai; V=encontrou; C= o filho. Na estrutura SVC, de acordo com a gramática normativa, apenas a posição S pode ser substituída por um pronome pessoal reto, ao passo que a posição C deve ser substituída por um pronome pessoal oblíquo. Assim, poderíamos obter: Ele encontrou-o (ou Ele o encontrou).
      Veja que utilizando o mesmo procedimento no segundo exemplo, o pronome pessoal reto “ele” passa a substituir “o filho”, enquanto o pronome pessoal oblíquo substitui “o pai”, devido à inversão dos sintagmas.
      Para completar sua metodologia de identificação do sujeito, a autora propõe também a transformação do enunciado em uma pergunta hipotética, para a qual a resposta completa indicará o sujeito.
      No exemplo “O pai encontrou o filho”, transformando a oração em uma pergunta “O pai encontrou o filho?”, obtemos a resposta “Sim, ele encontrou o filho.” Veja que o sintagma substituído pelo pronome pessoal reto “ele” na resposta corresponde a “o pai”, portanto este é o sujeito da oração.
      Todavia, nem sempre as orações encontram-se na ordem direta (SVC). Então, vejamos mais alguns exemplos para compreendermos esse método.

(1)   Chegou uma senhora de blusa vermelha. (?)
Sim, ela chegou.

(2)   Na multidão, meu amigo encontrou o irmão. (?)
      Sim, ele o encontrou.

      Veja que no exemplo (1), o sintagma “uma senhora de blusa vermelha” foi substituído pelo pronome reto “ela”, então esse sintagma corresponde ao sujeito da oração.
      Já no exemplo (2) substituímos dois sintagmas por pronomes, mas o que foi substituído pelo pronome pessoal reto foi “meu amigo”, portanto este é o sujeito da oração. O sintagma “o irmão” foi substituído pelo pronome pessoal oblíquo “o”, visto que ocupa a posição C na oração.
      Há casos em que o sujeito não pode ser substituído pelo pronome ele(s)/ela(s). Nesses casos, a sugestão é de que se substitua o sintagma pelo pronome demonstrativo “isso”.
      Vejamos um exemplo:

(3)   Ontem tudo parecia terminado. (?)
      Sim, ontem “isso” parecia terminado.

      No exemplo (3), o pronome é indefinido, por isso talvez fique melhor substituí-lo pelo demonstrativo neutro “isso”.

      É o caso de verbo substantivado, como no exemplo:

(4)   Comer é bom para a saúde.(?) 
      Sim, isso é bom para a saúde.

      As gramáticas geralmente classificam o sujeito em simples, composto, oculto (ou elíptico), indeterminado inexistente (ou oração sem sujeito). Passemos,então, a tratar dessa classificação.

A) SUJEITO SIMPLES (SS)        

      Usando o método prático de identificação do sujeito, apresentado anteriormente, classificaremos o sujeito como simples, quando este for representado por um sintagma nominal que tenha um só núcleo, o qual pode ser substituído por um pronome reto:

(5)   Sumiu da gaveta uma blusa amarela.

(6)   Morreram as rosas do jardim.

      No exemplo (5), substituímos o sintagma “uma blusa amarela”, cujo núcleo é “blusa”, pelo pronome pessoal reto “ela”. Então, podemos classificar o sujeito “uma blusa amarela” como simples (SS).
      O mesmo ocorre no exemplo (6), em que o sintagma “as rosas do jardim”, cujo núcleo é “rosas”, deve ser substituído pelo pronome “elas”. Embora o pronome esteja no plural, há apenas um núcleo, portanto a classificação do sujeito é simples. Essa classificação está relacionada ao núcleo do sujeito e não à forma singular ou plural do sintagma.
     

B) SUJEITO COMPOSTO (SC)

      No caso do sujeito composto, trocam-se dois ou mais sintagmas nominais (com respectivos núcleos substantivos) por um só pronome pessoal reto;

(7)   Sumiram da gaveta as blusas vermelhas e a calça azul. (?)
      Sim, eles sumiram.

      Veja que no exemplo (7), o pronome “eles” está substituindo os sintagmas “as blusas vermelhas” e “a calça azul”, cujos núcleos são “blusas” e “calça”.

C) SUJEITO OCULTO (SO)

      O sujeito oculto (ou elíptico ou desinencial) não está expresso em um sintagma nominal na oração, mas encontra-se marcado na própria desinência verbal. Nesse caso, o método não é substituir nenhum sintagma nominal por pronome e, sim, acrescentar um pronome reto à oração, pronome este que se articula ao verbo.

(8)   Chegamos ao final. (?)

      Sim, nós chegamos ao final.

(9)   Encontraste o seu livro. (?)
     
      Sim, tu encontraste o livro.

      Veja que no exemplo (8) o pronome que se articula ao verbo da oração é “nós” e a desinência que marca 1ª pessoa do plural (nós) no verbo é -“mos”.
      O mesmo ocorre no exemplo (9), cuja desinência –ste marca segunda pessoa do singular, tu.
      Nos dois casos, o sujeito não se encontra expresso na oração, por isso ele recebe essa classificação de oculto (ou elíptico ou desinencial).
      Quando há terceira pessoa (do singular ou do plural), em português é uma forma de indeterminação do sujeito, como veremos adiante. No entanto,  se as orações estiverem articuladas entre si e houver expressão anterior do sujeito, este pode ser classificado como oculto.
(10)       Encontraram meu caderno na sala. Estava todo rasgado.
(11)       Sumiram minhas anotações do computador, mas não eram importantes.

      No exemplo (10), podemos considerar sujeito oculto na segunda oração, cuja desinência verbal é marcada pela ausência, isto é, por ø. Já no exemplo (11), a marca de terceira pessoa do plural – m não representa um sujeito simples, visto que na segunda, pela elipse (ø) do sujeito, essa marca significa a referência ao sintagma “minhas anotações”, expresso na oração anterior.  

D) SUJEITO INDETERMINADO (SI)

      Há oração com sujeito indeterminado quando o verbo encontra-se na terceira pessoa do plural ou na terceira pessoa do singular acompanhado da partícula –se, sem referência a nenhum outro sintagma expresso anteriormente. Nesse caso, a intenção é manter desconhecida a identidade do sujeito.
      Seguindo o método de substituição do sintagma pelo pronome, essas orações admitem o acréscimo de duas ou mais variações de um pronome reto de 3ª pessoa.

(12)       Disseram a verdade. (?)
     
      Sim, (eles/ elas/ vocês) disseram a verdade.

(13)       Necessita-se de um esclarecimento. (?)

      Sim, (ele/ ela/ você) necessita de um esclarecimento.

      Tanto no exemplo (12) como no exemplo (13), o sujeito é indeterminado, pois no primeiro caso, o verbo “disseram” não faz referência a nenhum sintagma anterior  à variação do pronome de terceira pessoa, ocorrendo o mesmo com o verbo do segundo exemplo. A diferença é que no exemplo (14) o verbo encontra-se na 3ª pessoa do singular acompanhado do pronome “se”. São duas formas de se indeterminar o sujeito.
      Entretanto, é preciso atentar para essa construção com a partícula –se e o verbo na 3ª pessoa do singular, pois há casos em que ela representa o verbo na voz passiva.

(14)       Encontraram-se os objetos perdidos na casa. (?)

      Sim, os objetos perdidos foram encontrados na casa.

      (Sim, eles foram encontrados na casa)

      Veja que no exemplo (14) a oração que se encontra na voz passiva sintética pode ser transformada em voz passiva analítica, o que não ocorre no exemplo (13). Quando a oração encontra-se na voz passiva, nesses casos, o verbo da oração é transitivo direto (o que estudaremos posteriormente). Portanto, o sujeito dessa oração (14) é “os objetos da casa”, sintagma que pôde ser substituído pelo pronome “eles”. Então, o sujeito é simples (SS) e não indeterminado, como no caso da oração do exemplo (13).

E) ORAÇÃO SEM SUJEITO ou SUJEITO INEXISTENTE

      Nas construções em que o sujeito encontra-se ausente e não há indícios de sua presença, como a marca na desinência verbal, por exemplo, este é considerado inexistente.

(15)       Fez calor durante todo o dia. (?)

Sim, fez calor durante todo o dia.

(16)       Houve muitas reclamações. (?)

      Sim, houve muitas reclamações.


      Veja que, aplicando o método de transformar a oração em pergunta, tanto no exemplo (15) quanto no exemplo (16), como o verbo é impessoal, ou seja, não há conjugação para eles,não podemos substituir nenhum sintagma por um pronome pessoal reto.
      Isso ocorre com verbos que normalmente indicam fenômenos naturais e com o verbo haver (no sentido de existir), visto que eles não se flexionam por serem impessoais.