sábado, 10 de novembro de 2012

Funções sintáticas


No quadro abaixo iremos retomar as funções sintáticas  que os sintagmas podem assumir na relação sintagmática entre os elementos de uma oração.         
      Com essa finalidade, vamos apresentar o quadro proposto por Sautchuk (2004: 90), que se encontra na referida obra.     
     

TERMO SINTÁTICO
BASE OU NATUREZA
MORFOLÓGICA
REPRESENTADO POR
Sujeito
Substantiva
sintagma nominal
(autônomo)
Objeto Direto
Substantiva
sintagma nominal
(autônomo)
Objeto Indireto
Preposicionada
Sintagma preposicionado
(autônomo)
Predicativo do sujeito ou do objeto
Adjetiva
Sintagma adjetival/sintag. nominal/sintag. preposiconado
(autônomos)
Agente da Passiva
Preposicionada
Sintagma preposicionado
(autônomo)
Complemento Nominal
Preposicionada
Sintagma preposicionado
(interno)
Adjunto Adverbial
Adjetiva
Sintag. adjetival/sintaf. preposicionado, determinantes
(internos)
Aposto/Vocativo
Substantiva
Sintagma nominal
(autônomo)



ESTUDO DOS TERMOS DA ORAÇÃO

      A cada sintagma verbal temos uma oração. Desse modo, quando o período é constituído de uma oração, denomina-se período simples, a partir de duas (ou mais) orações, há um período composto. Neste, existem dois processos de relação sintática, a coordenação e a subordinação, os quais serão estudados posteriormente. 
      Vimos também que, na hierarquia gramatical, os constituintes de uma oração são os sintagmas. Estes assumem funções sintáticas na oração, conforme a relação que se estabelece entre esses sintagmas. Ao analisarmos sintaticamente uma oração, os dois constituintes imediatos que se identificam são o sujeito e o predicado.
      Assim, temos;

                   O

            S           P
      A mãe /abriu a porta.

      Devemos lembrar, ainda, que o padrão sintático em Língua Portuguesa é: S V C, ou seja, SUJEITO + VERBO + COMPLEMENTO.                         

      A posição S, quando preenchida, será ocupada por um sintagma que tem a função de sujeito da oração,  enquanto a posição V corresponde ao sintagma verbal, imprescindível em toda oração. Quanto à posição C, diz respeito ao sintagma que representa o complemento da oração.
      Vejamos um exemplo:

      Todos os presentes aplaudiram o orador.
                          S                    V               C

      Há orações em que as posições S e C podem estar ausentes:

              ø  chegaram ø

      Então, concluímos que podemos ter oração sem sujeito e sem complemento, mas sempre haverá um sintagma verbal, que é a base de uma oração.
      Lembremos que será a relação sintática entre os termos que determinará a função de cada um na oração. E como sintaxe é “ordem, disposição, relação”, esta implicará na organização e conseqüente função dos sintagmas na oração.


 SUJEITO

      A gramática tradicional normalmente refere-se ao sujeito como “um termo essencial na oração”. Essa definição pressupõe valor semântico e, como acabamos de verificar, há orações em que o sujeito pode estar ausente, por isso questionamos como ele pode ser um termo essencial.
      Há também alguns gramáticos que utilizam o método de se perguntar “quem” ou “o que” para se descobrir o sujeito da oração. No entanto, podemos obter como resposta o objeto (e não o sujeito) dessa oração. 
      Partindo do princípio de que o sujeito é uma noção gramatical e, portanto, enquanto sintagma, articula-se ao verbo da oração, concordando com ele em tempo/modo, número/pessoa, sugerimos a metodologia adotada por Sautchuk (2004) em seu manual didático. 
      Primeiramente, a autora ressalta a natureza substantiva do sujeito, visto que é sempre representado por um sintagma nominal. Em seguida, destaca a posição primeira na estrutura S V C. Essas duas características morfossintáticas são essenciais para um reconhecimento prévio do sujeito na oração.
      Veja, em:

      O pai encontrou o filho.

      Na posição S, temos “o pai” e na posição C, “o filho”. Se invertêssemos os sintagmas, obeteríamos “O filho encontrou o pai”, em que na posição S passamos a ter “o filho” e na posição C, “o pai”.
      Assim, uma primeira caracterização do sujeito é a de “todo termo da oração (não preposicionado) que puder ser substituído por um pronome reto ele(s), ela(s)”(Sautchuk, 2004: 59).     
      Retomando o exemplo dado anteriormente, vejamos essas características.
      No primeiro exemplo, temos S= O pai; V=encontrou; C= o filho. Na estrutura SVC, de acordo com a gramática normativa, apenas a posição S pode ser substituída por um pronome pessoal reto, ao passo que a posição C deve ser substituída por um pronome pessoal oblíquo. Assim, poderíamos obter: Ele encontrou-o (ou Ele o encontrou).
      Veja que utilizando o mesmo procedimento no segundo exemplo, o pronome pessoal reto “ele” passa a substituir “o filho”, enquanto o pronome pessoal oblíquo substitui “o pai”, devido à inversão dos sintagmas.
      Para completar sua metodologia de identificação do sujeito, a autora propõe também a transformação do enunciado em uma pergunta hipotética, para a qual a resposta completa indicará o sujeito.
      No exemplo “O pai encontrou o filho”, transformando a oração em uma pergunta “O pai encontrou o filho?”, obtemos a resposta “Sim, ele encontrou o filho.” Veja que o sintagma substituído pelo pronome pessoal reto “ele” na resposta corresponde a “o pai”, portanto este é o sujeito da oração.
      Todavia, nem sempre as orações encontram-se na ordem direta (SVC). Então, vejamos mais alguns exemplos para compreendermos esse método.

(1)   Chegou uma senhora de blusa vermelha. (?)
Sim, ela chegou.

(2)   Na multidão, meu amigo encontrou o irmão. (?)
      Sim, ele o encontrou.

      Veja que no exemplo (1), o sintagma “uma senhora de blusa vermelha” foi substituído pelo pronome reto “ela”, então esse sintagma corresponde ao sujeito da oração.
      Já no exemplo (2) substituímos dois sintagmas por pronomes, mas o que foi substituído pelo pronome pessoal reto foi “meu amigo”, portanto este é o sujeito da oração. O sintagma “o irmão” foi substituído pelo pronome pessoal oblíquo “o”, visto que ocupa a posição C na oração.
      Há casos em que o sujeito não pode ser substituído pelo pronome ele(s)/ela(s). Nesses casos, a sugestão é de que se substitua o sintagma pelo pronome demonstrativo “isso”.
      Vejamos um exemplo:

(3)   Ontem tudo parecia terminado. (?)
      Sim, ontem “isso” parecia terminado.

      No exemplo (3), o pronome é indefinido, por isso talvez fique melhor substituí-lo pelo demonstrativo neutro “isso”.

      É o caso de verbo substantivado, como no exemplo:

(4)   Comer é bom para a saúde.(?) 
      Sim, isso é bom para a saúde.

      As gramáticas geralmente classificam o sujeito em simples, composto, oculto (ou elíptico), indeterminado inexistente (ou oração sem sujeito). Passemos,então, a tratar dessa classificação.

A) SUJEITO SIMPLES (SS)        

      Usando o método prático de identificação do sujeito, apresentado anteriormente, classificaremos o sujeito como simples, quando este for representado por um sintagma nominal que tenha um só núcleo, o qual pode ser substituído por um pronome reto:

(5)   Sumiu da gaveta uma blusa amarela.

(6)   Morreram as rosas do jardim.

      No exemplo (5), substituímos o sintagma “uma blusa amarela”, cujo núcleo é “blusa”, pelo pronome pessoal reto “ela”. Então, podemos classificar o sujeito “uma blusa amarela” como simples (SS).
      O mesmo ocorre no exemplo (6), em que o sintagma “as rosas do jardim”, cujo núcleo é “rosas”, deve ser substituído pelo pronome “elas”. Embora o pronome esteja no plural, há apenas um núcleo, portanto a classificação do sujeito é simples. Essa classificação está relacionada ao núcleo do sujeito e não à forma singular ou plural do sintagma.
     

B) SUJEITO COMPOSTO (SC)

      No caso do sujeito composto, trocam-se dois ou mais sintagmas nominais (com respectivos núcleos substantivos) por um só pronome pessoal reto;

(7)   Sumiram da gaveta as blusas vermelhas e a calça azul. (?)
      Sim, eles sumiram.

      Veja que no exemplo (7), o pronome “eles” está substituindo os sintagmas “as blusas vermelhas” e “a calça azul”, cujos núcleos são “blusas” e “calça”.

C) SUJEITO OCULTO (SO)

      O sujeito oculto (ou elíptico ou desinencial) não está expresso em um sintagma nominal na oração, mas encontra-se marcado na própria desinência verbal. Nesse caso, o método não é substituir nenhum sintagma nominal por pronome e, sim, acrescentar um pronome reto à oração, pronome este que se articula ao verbo.

(8)   Chegamos ao final. (?)

      Sim, nós chegamos ao final.

(9)   Encontraste o seu livro. (?)
     
      Sim, tu encontraste o livro.

      Veja que no exemplo (8) o pronome que se articula ao verbo da oração é “nós” e a desinência que marca 1ª pessoa do plural (nós) no verbo é -“mos”.
      O mesmo ocorre no exemplo (9), cuja desinência –ste marca segunda pessoa do singular, tu.
      Nos dois casos, o sujeito não se encontra expresso na oração, por isso ele recebe essa classificação de oculto (ou elíptico ou desinencial).
      Quando há terceira pessoa (do singular ou do plural), em português é uma forma de indeterminação do sujeito, como veremos adiante. No entanto,  se as orações estiverem articuladas entre si e houver expressão anterior do sujeito, este pode ser classificado como oculto.
(10)       Encontraram meu caderno na sala. Estava todo rasgado.
(11)       Sumiram minhas anotações do computador, mas não eram importantes.

      No exemplo (10), podemos considerar sujeito oculto na segunda oração, cuja desinência verbal é marcada pela ausência, isto é, por ø. Já no exemplo (11), a marca de terceira pessoa do plural – m não representa um sujeito simples, visto que na segunda, pela elipse (ø) do sujeito, essa marca significa a referência ao sintagma “minhas anotações”, expresso na oração anterior. 

D) SUJEITO INDETERMINADO (SI)

      Há oração com sujeito indeterminado quando o verbo encontra-se na terceira pessoa do plural ou na terceira pessoa do singular acompanhado da partícula –se, sem referência a nenhum outro sintagma expresso anteriormente. Nesse caso, a intenção é manter desconhecida a identidade do sujeito.
      Seguindo o método de substituição do sintagma pelo pronome, essas orações admitem o acréscimo de duas ou mais variações de um pronome reto de 3ª pessoa.

(12)       Disseram a verdade. (?)
     
      Sim, (eles/ elas/ vocês) disseram a verdade.

(13)       Necessita-se de um esclarecimento. (?)

      Sim, (ele/ ela/ você) necessita de um esclarecimento.

      Tanto no exemplo (12) como no exemplo (13), o sujeito é indeterminado, pois no primeiro caso, o verbo “disseram” não faz referência a nenhum sintagma anterior  à variação do pronome de terceira pessoa, ocorrendo o mesmo com o verbo do segundo exemplo. A diferença é que no exemplo (14) o verbo encontra-se na 3ª pessoa do singular acompanhado do pronome “se”. São duas formas de se indeterminar o sujeito.
      Entretanto, é preciso atentar para essa construção com a partícula –se e o verbo na 3ª pessoa do singular, pois há casos em que ela representa o verbo na voz passiva.

(14)       Encontraram-se os objetos perdidos na casa. (?)

      Sim, os objetos perdidos foram encontrados na casa.

      (Sim, eles foram encontrados na casa)

      Veja que no exemplo (14) a oração que se encontra na voz passiva sintética pode ser transformada em voz passiva analítica, o que não ocorre no exemplo (13). Quando a oração encontra-se na voz passiva, nesses casos, o verbo da oração é transitivo direto (o que estudaremos posteriormente). Portanto, o sujeito dessa oração (14) é “os objetos da casa”, sintagma que pôde ser substituído pelo pronome “eles”. Então, o sujeito é simples (SS) e não indeterminado, como no caso da oração do exemplo (13).

E) ORAÇÃO SEM SUJEITO ou SUJEITO INEXISTENTE

      Nas construções em que o sujeito encontra-se ausente e não há indícios de sua presença, como a marca na desinência verbal, por exemplo, este é considerado inexistente.

(15)       Fez calor durante todo o dia. (?)

Sim, fez calor durante todo o dia.

(16)       Houve muitas reclamações. (?)

      Sim, houve muitas reclamações.


      Veja que, aplicando o método de transformar a oração em pergunta, tanto no exemplo (15) quanto no exemplo (16), como o verbo é impessoal, ou seja, não há conjugação para eles,não podemos substituir nenhum sintagma por um pronome pessoal reto.
      Isso ocorre com verbos que normalmente indicam fenômenos naturais e com o verbo haver (no sentido de existir), visto que eles não se flexionam por serem impessoais.

 PREDICADO E COMPLEMENTOS VERBAIS.

      Os dois constituintes imediatos da oração são o sujeito e o predicado e como já falamos sobre o sujeito, vejamos, então, o predicado. Este, na organização sintática de uma oração, diz respeito ao que não faz parte do sujeito.
      Embora não haja uma posição definida entre muitos gramáticos com relação ao sintagma verbal , entendemos que ele compõe o predicado.
      Nesse sentido, Azeredo (2001: 52)  afirma:

                       (...)Pensamos ser mais conveniente falar em subordinação do objeto, não ao verbo que o rege, mas ao conjunto a que verbo e objeto pertencem: o SV predicado. Com efeito, o verbo transitivo (ou intransitivo) não é o predicado – função exercida pelo SV – mas constituinte dele, seu núcleo, e o objeto outro constituinte, porém subordinado.

      Verificamos, então, que o “SV predicado”, como denomina o autor, pode ser constituído de um verbo sem complemento obrigatório ou  de um verbo que exija complemento obrigatório, o que fará parte desse sintagma, que, por sua vez, constitui o predicado da oração.

(17)       O chefe do departamento resolveu o problema.

      No exemplo (17), ao identificarmos os constituintes da oração, temos “o chefe do departamento” como sujeito e “resolveu o problema” como predicado. Neste último, observemos que o verbo é “resolveu” e ele exige um complemento,no caso, “o problema”. Assim, ilustramos o conceito de SV predicado proposto por Azeredo, em que o verbo pode se encontrar acrescido de um complemento obrigatório (como no exemplo) ou de um adjunto (que não é um complemento obrigatório).
      A predicação está ligada ao comportamento dos verbos em seu interior. Por isso, há gramáticas que classificam o predicado conforme o tipo de verbo. Para a caracterização desses verbos, todavia, torna-se necessário levar em conta sua carga semântica na oração.
      Nesse sentido, segundo Sautchuk (2004), há verbos que têm 100% de carga semântica, como há os que apresentam 0% dessa carga. Nessa equivalência, temos os verbos  denominados intransitivos (não necessitam de complemento) e os de ligação (sem carga semântica). Ainda há os verbos que exigem um complemento, portanto não têm 100% de carga semântica, mas também não são apenas de ligação. Estes denominam-se transitivos.
      Os verbos transitivos, de acordo com sua regência (com ou sem preposição), pode ser classificado em transitivo indireto ou transitivo direto. O primeiro grupo relaciona-se aos verbos que são regidos de preposição, já o segundo grupo está relacionado aos verbos não regidos de preposição.

(18)       As pessoas precisam de um esclarecimento.

(19)       As pessoas exigem um esclarecimento.

      Entre os exemplos (18) e (19), a diferença está na regência do verbo. No primeiro, o verbo é regido da preposição “de”, portanto um verbo transitivo indireto, o que não ocorre no segundo exemplo, em que, inversamente, o verbo não é regido de preposição, por isso um verbo transitivo direto. Os complementos para esses verbos são denominados objeto indireto e objeto direto, respectivamente.
      Em ambos exemplos, o verbo não tem 100% de carga semântica, seu sentido  termina no complemento, o qual é chamado de objeto (indireto para o primeiro exemplo e direto para o segundo).
      Ressaltamos que pode ocorrer do verbo transitivo vir acompanhado dos dois tipos de complemento obrigatório, o objeto direto e o objeto indireto. Nesse caso, ele será classificado como transitivo direto e indireto. Veja no exemplo a seguir.
     
(20)       A namorada recebeu flores do namorado.

      No exemplo (20) o verbo “recebeu” tem como complementos “flores” e “do namorado”, portanto os dois tipos de complemento, um não regido de preposição (objeto direto) e outro regido de preposição (objeto indireto). Daí a classificação do verbo em transitivo direto e indireto.
      O verbo que tem 100% de carga semântica, como já fora dito, não é acompanhado de complemento obrigatório (objeto), mas pode vir acompanhado de complemento não obrigatório, um adjunto.

(21)       Todos os presentes saíram logo da reunião.

      No exemplo (21), o verbo “saíram” não exige complemento, pois o sentido está completo. Entretanto, os sintagmas “logo” e “da reunião” indicam, respectivamente, circunstâncias de tempo e de lugar. Essas circunstâncias são representadas por sintagmas que têm a função de adjunto adverbial, pois modificam o verbo, que representa a ação.  A classificação desse verbo é de intransitivo.
      As gramáticas que dão classificação ao predicado, consideram esses casos, em que o verbo é transitivo ou intransitivo, como predicado verbal, uma vez que o verbo tem carga semântica (completa ou incompleta) e, por isso, torna-se o núcleo desse predicado. Daí a classificação como predicado verbal.
      Quanto aos verbos que têm 0% de carga semântica, estes são considerados meros relatores, isto é, exercem a função de relacionar/ligar o sujeito a um outro sintagma, o qual geralmente tem a função de modificar o sujeito. A esse tipo de predicado, as gramáticas dão a classificação de predicado nominal.

(22)       Os vencedores estavam felizes.

      No exemplo (22), o verbo “estavam” não tem carga semântica, ele cumpre a função de relacionar o sujeito “os vencedores” a “felizes”, que tem a função de modificar o sujeito, dando-lhe uma característica.  Portanto, o verbo é vazio de sentido e classifica-se como verbo de ligação. O complemento desse tipo de verbo, o de ligação, também se torna obrigatório e é classificado como predicativo do sujeito (P.S.)
      Há gramáticas que oferecem uma lista de verbo de ligação, mas memorizar essa lista pode não ser eficaz, visto que, de acordo com o contexto, um verbo que seria de ligação pode deixar de ser.

(23)       Os convidados estavam na sala.

      Todavia, o exemplo (23) gera polêmica em sua classificação. Podemos afirmar que não é um verbo de ligação por não estar relacionando apenas o sujeito a uma característica sua.
      No entanto, a gramática tradicional classifica esse verbo como intransitivo, o que gera dúvida, porque seu sentido não parece encerrar-se no verbo. Na construção sintática dessa oração, o sentido do verbo parece terminar em seu adjunto adverbial “na sala”.        Para tanto, Sautchuk propõe uma nova classificação. Como o verbo termina seu sentido no adjunto adverbial, a autora sugere que ele seja classificado como “transadverbial”. Essa classificação parece-nos coerente.
Verbo Intransitivo (V.I) = verbo com 100% de carga semântica.
Verbo Transitivo = verbo com sentido incompleto.
Verbo Transitivo Direto (V.T.D.) = verbo com sentido incompleto, acompanhado de complemento (O.D.), sem preposição.
Verbo Transitivo Indireto (V.T.I.)= verbo com sentido incompleto, acompanhado de complemento (O.I), com preposição.
Verbo de Ligação (V.L) = verbo com 0% de carga semântica.
SV predicado = sintagma verbal que compõe o sintagma. Pode ter verbo intransitivo ou verbo transitivo


A) CARACTERÍSTICAS MORFOSSINTÁTICAS DOS COMPLEMENTOS VERBAIS.

      Acabamos de ver os complementos obrigatórios do verbo, ou seja, os objetos – direto e indireto – e o predicativo do sujeito. Os primeiros articulam-se a um verbo transitivo, cujo sentido é incompleto e exige o complemento, regido ou não de preposição. Já o segundo, o predicativo do sujeito, articula-se ao verbo de ligação, complementando o predicado, visto que esse tipo de verbo apenas relaciona o sujeito ao seu complemento.
      Veremos, então, algumas características morfossintáticas desses complementos, a fim de facilitar a identificação desses elementos na oração. Depois veremos outros complementos verbais, ou seja, os complementos não obrigatórios que também podem ocorrer na oração.
      Assim como apresentamos o método prático para localizar o sujeito na oração, sugerido por Sautchuk, veremos que o objeto direto (O.D.) também apresenta peculiaridades que possibilitam sua identificação.
      A primeira delas é que a natureza morfológica do O.D. é substantiva, isto é, ele é representado por um sintagma nominal. Este pode ser substituído por um pronome pessoal (assim como o sujeito), mas por ocupar a posição C (na estrutura SVC), dever ser substituído por um pronome pessoal oblíquo.

(24)   O povo perdeu a esperança. (?)

      Sim, o povo perdeu-a

      Veja que utilizando o método de transformar a oração em pergunta e, ao respondê-la, substituir o sintagma pelo pronome pessoal, o sintagma “a esperança” foi trocado por “a”, uma vez que ocupa a posição C e, portanto, é o objeto da oração. De acordo com a norma culta, pronome pessoal reto não pode ocupar a posição C, então não poderia ser “Sim, o povo perdeu ela.” Esse tipo de pronome apenas pode ocupar a posição S (de sujeito).
      Outra característica importante para identificar o objeto direto é que o sintagma nominal que  o representa é autônomo (e não interno). Além disso, o pronome oblíquo que pode substituí-lo deve concordar em gênero/número com o núcleo do objeto.
      Outro método sugerido pela autora para confirmar se o termo analisado é objeto direto é o de transformar a oração em voz passiva. Assim, veremos que o objeto é um “sujeito disfarçado”.

(25)   O povo perdeu a esperança./ A esperança foi perdida pelo povo.

      No exemplo (25), ao passarmos a oração para a voz passiva, o objeto direto (na voz ativa) torna-se sujeito da oração (na voz passiva). Por isso, dizemos que o objeto é um “sujeito disfarçado”.

      Quanto ao objeto indireto (O.I.), este é representado por um sintagma preposicionado (o que pode confundi-lo com o adjunto adverbial) e é obrigatório na oração. Pode ser também substituído por um pronome oblíquo – lhe(s) – principalmente quando regido por preposição “a”. As preposições mais comuns como introdutórias desse tipo de sintagma são “em, a, para, de, com, por”.
      Como pode ser confundido como adjunto adverbial, ressaltamos que este, apesar de ser também representado por um sintagma preposicionado, não é obrigatório na oração, mas acessório, ao passo que o O.I. é obrigatório.

(26)   Sugeri ao menino um banho.

(27)   Sairemos ao amanhecer.

      Em (27) o sintagma preposicionado “ao menino” é complemento obrigatório do verbo e, portanto, objeto indireto. Já no exemplo (27), o sintagma “ao amanhecer”, embora seja preposicionado, não é obrigatório, pois o verbo já tem 100% de carga semântica, por isso tem a função de adjunto adverbial, uma vez que se trata de uma circunstância de tempo que modifica o verbo.
      O predicativo do sujeito (P.S.), enquanto complemento obrigatório, articula-se a um verbo de ligação. Todavia, esse tipo de complemento pode ocorrer com verbos que não sejam de ligação, como um complemento acidental na oração.

      (28) Os meninos pareciam agitados.

      (29) Os meninos chegaram agitados.

      Na oração do exemplo (28), o sintagma que corresponde ao predicativo do sujeito, “agitados” (de natureza adjetiva), é obrigatório, tendo em vista o verbo “pareciam” ser de ligação. Já em (29), o verbo “chegaram” é intransitivo, o que torna o predicativo acidental, circunstancial e não obrigatório.
      As gramáticas tradicionais, inclusive, classificam esse tipo de predicado (que apresenta verbo intransitivo/transitivo e predicativo do sujeito) como predicado verbo-nominal, pelo fato de apresentar um verbo significativo, que é núcleo do predicado verbal, e um outro sintagma que corresponderia ao núcleo do predicado nominal (segundo o ponto de vista da gramática tradicional).
      Não vamos, entretanto, ater-nos a essa classificação do predicado. O importante é entendermos a articulação dos verbos que se encontram no interior dele.
      Retomando o predicativo do sujeito, verificamos que o sintagma que corresponde a ele também é autônomo (e não interno) e por ser de natureza adjetiva, normalmente é representado por um sintagma adjetival, o que não impede que seja representado por outro tipo de sintagma (nominal, por exemplo), mas que tenha característica adjetiva.

      (30) A festa foi horrível.

      (31) A festa foi um fracasso.

      Em (30), o sintagma que representa o predicativo do sujeito – “horrível” – é adjetival. No entanto, em (31), o sintagma “um fracasso” é nominal, mas equivale a um adjetivo em relação ao sujeito “A festa”.
      Assim como predicativo do sujeito, pode haver predicativo do objeto (P.O.) na oração. Este tem as mesmas características do predicativo do sujeito, com a diferença de articular-se ao objeto e não ao sujeito.
      Os verbos que apresentam esse tipo de predicação são denominados “transobjetivos” por Sautchuk (2004). São eles: eleger, encontrar, julgar, nomear, considerar, proclamar, achar.

      (32) Considero esse garoto um chato.

      Veja que no exemplo (32), o sintagma “um chato” é um sintagma autônomo, de natureza adjetiva, mas se refere ao objeto direto “esse garoto” e não ao sujeito da oração, que está oculto (eu). Portanto, esse sintagma representa o predicativo do objeto e não o predicativo do sujeito.

FUNÇÃO SINTÁTICA DOS SINTAGMAS AUTÔNOMOS E INTERNOS.

      Retomando a classificação dos sintagmas em autônomos ou internos, passamos a verificar as funções sintáticas (algumas já apresentadas) desses sintagmas na oração.
      Como já fora visto, os sintagmas autônomos são os que podem ser deslocados no eixo sintagmático da oração, portanto, podemos, a grosso modo, dizer que eles “têm vida própria”. É o que acontece com sintagmas que têm a função de sujeito, de objeto (direto ou indireto), de predicativo (do sujeito ou do objeto), de agente da passiva, de adjunto adverbial, de aposto e de vocativo.
      Quanto aos sintagmas internos, estes encontram-se subordinados a outros sintagmas, visto que encontram-se dentro deles e, por isso, não podem ser deslocados na oração. É o caso do adjunto adnominal e do complemento nominal.
      Dentre os autônomos, ainda não tratamos de alguns, que serão apresentados a seguir, como o agente da passiva, o aposto e o vocativo. Os demais encontram-se já descritos anteriormente.
      Quando o oração encontra-se na voz passiva, há um novo constituinte dessa oração, que se denomina agente da passiva. Vejamos o exemplo que segue.

(33)   O espetáculo foi apresentado pelo locutor.

      No exemplo, temos como sujeito “o espetáculo”. Todavia, essa oração encontra-se na voz passiva analítica, em que a estrutura é: sujeito + verbo auxiliar + verbo principal na forma nominal particípio + agente da passiva.
      Portanto, o sintagma “pelo locutor” tem a função de agente da passiva. As características desse sintagma são : sintagma preposicionado, introduzido pela preposição por (pelo = per < por + o), autônomo.
      Vejamos, então, as funções de aposto e vocativo dos sintagmas autônomos, as quais ainda não foram tratadas. Segundo a gramática tradicional, esses termos são acessórios na oração.  
      O aposto é representado, geralmente, por um sintagma de natureza substantiva e ele tem a função de explicar, resumir ou desenvolver outro termo sintático já existente na oração. Muitas vezes ele é confundido com o sujeito ou com o predicativo do sujeito. Vejamos nos exemplos como ele pode apresentar-se.
     
(34)   Brasília, a capital do Brasil, é uma cidade plana.

(35)   Crianças, jovens, adultos, todos pareciam muito irritados.

      No exemplo (34), o sintagma que representa o aposto é “a capital do Brasil”. Nessa oração, o sujeito é “Brasília”, portanto o aposto está retomando o sujeito, seria dispensável, daí a sua característica de termo acessório. O sintagma tem como núcleo “capital”, portanto é de base morfológica substantiva e é autônomo, sendo destacado, inclusive, pela pontuação.
      Quanto ao exemplo (35), neste o termo “todos” resume todos os outros que representam o sujeito “crianças, jovens, adultos”. Ele seria também dispensável na oração. Assim como no exemplo anterior, é um sintagma de natureza substantiva, autônomo e um complemento não obrigatório na oração.
      A natureza substantiva do sintagma que representa o aposto é uma das características que o diferencia do predicativo do sujeito, cujo sintagma é de natureza adjetiva.
      Outro termo representado por sintagma autônomo, porém não necessário em uma oração, é o vocativo. Esse termo tem por função apenas invocar mesmo, chamar a atenção do interlocutor. O sintagma que o representa é de natureza substantiva e, assim como o aposto, é destacado pela pontuação, tornando- isolado na oração, por isso muitas vezes os dois termos são confundidos em sua classificação. Vejamos um exemplo.

(36)   Meu filho, seja forte nessa hora.

      O sujeito no exemplo (36)  encontra-se oculto e pode ser identificado como “você”. Então, o sintagma “meu filho” representa a forma utilizada para chamar a atenção do interlocutor, portanto trata-se do vocativo da oração, que seria desnecessário na sua estrutura.
      Tendo tratado dos sintagmas autônomos, resta-nos tratar dos sintagmas internos que ainda não foram descritos, ou seja, do adjunto adnominal e do complemento nominal.
      Assim como o aposto e o vocativo, o adjunto adnominal é acessório, isto é, embora seja um sintagma interno (está subordinado a outro sintagma), ele não é um complemento obrigatório na oração.
      Além disso, outra característica desse termo é que, por ser um sintagma interno, está sempre preso a um núcleo substantivo. Portanto, uma oração pode apresentar tantos adjuntos adnominais quantos forem os núcleos substantivos.
      Do ponto de vista morfológico, os adjuntos adnominais são representados por determinantes ou modificadores do substantivo. Vejamos exemplos.
     
(37)   As duas meninas de azul oferecerem uma rosa à mulher de preto.

      Nesse exemplo (37), vamos, primeiramente, isolar os sintagmas autônomos que tenham como núcleo substantivos. São eles:
(a)  As duas meninas de azul
(b)  uma rosa
(c)  à mulher de preto

      Em (a) o núcleo é “meninas”, portanto, “as”, “duas” e “de azul” são adjuntos adnominais, pois o primeiro termo determina o gênero e o número do substantivo, enquanto o segundo quantifica-o e o terceiro modifica-o.
      No sintagma (b), o núcleo é o substantivo “rosa”, cujos gênero e número são determinados por “uma”, que representa o adjunto adnominal.
      E no sintagma (c ), para o núcleo “mulher”, temos como adjuntos adnominas “a”- artigo (da contração prep. a + artigo a) – lembrando  que a preposição é apenas um relator, não tem função sintática – e  o sintagma “de preto”, que tem a função de modificador do substantivo.
      O complemento nominal, embora seja também um sintagma interno, diferencia-se do adjunto adnominal por ser um complemento obrigatório, semelhante aos complementos verbais – objeto direto e objeto indireto.
      Esse termo é sempre representado por um sintagma preposicionado (interno) exigido para complementar o sentido de algum termo da oração, que seja representado por um substantivo, adjetivo ou advérbio, regidos de preposição.
      Quando ele complementa um substantivo, pode ser confundido como o adjunto adnominal. Por isso, nesse caso, o valor semântico pode ser mais decisivo para a classificação de um ou outro. Entretanto, uma característica acentuada é o complemento nominal ser uma nominalização de um verbo transitivo, o que, todavia, não assegura a sua classificação em casos polêmicos.
      Vejamos alguns exemplos.

(38)   O retorno dos amigos é sempre uma alegria. 
(39)   Você foi a salvação de todos.
(40)   A saída do show foi tumultuada.
(41)   Vamos ouvir a execução da sentença.

      Nos exemplos anteriores, podemos transformar os nomes em verbos: em (38), temos “os amigos retornaram”; em (39), “todos se salvaram”; em (40), “saíram do show”; em (40), “a sentença executou-se (ou foi executada)”. Então, em cada exemplo, respectivamente, os complementos nominais são: “dos amigos”, “de todos”, “do show” e “da sentença”.

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