Como já vimos também, cada verbo pressupõe a existência de uma oração.
Portanto, a partir de dois ou mais verbos, temos um período composto. Este pode
ser articulado por dois processos: a coordenação e a subordinação.
O processo de coordenação diz respeito à organização em que as orações
têm uma equivalência, isto é, há um paralelismo e não uma hierarquia de
informações veiculadas pelas orações que compõem o período. Bechara (2001, p.
48) classifica esse processo como parataxe:
Consiste a parataxe na propriedade mediante a qual duas ou mais unidades
de um mesmo estrato funcional podem combinar-se nesse mesmo nível para
constituir, no mesmo estrato, uma nova unidade suscetível deste estrato.
Portanto, o que caracteriza a parataxe é a circunstância de que unidades
combinadas são equivalentes do ponto de vista gramatical.
Já no processo de subordinação, há uma hierarquia na qual existe
sobreposição de uma oração em relação à outra, daí o conceito de oração
subordinada em relação à principal. É o que Bechara (2001,p. 47) denomina
hipotaxe:
A hipotaxe (...) consiste na possibilidade de uma
unidade correspondente a um estrato superior poder funcionar num estrato
inferior, ou em estratos inferiores. É o caso de uma oração passar a funcionar
como ‘membro’ de outra oração, particularidade muito conhecida em gramática.
Ressaltamos, ainda, que os limites do período são estabelecidos por
pontuações finais (., !, ?, ...). Assim, podemos verificar, primeiramente, o
número de orações e de períodos no exemplo seguinte.
(1) Havia harmonia no ambiente. Os quadros estavam bem colocados, a mesa
foi bem arrumada pela mulher e um perfume agradável dominava o ambiente.
Podemos dizer que há dois períodos no parágrafo e
este é composto por quatro orações ao todo, sendo uma no primeiro período e
três no segundo. Os períodos encontram-se delimitados pelos pontos finais,
enquanto as orações podem ser localizadas pelos verbos “havia”, “estavam”,
“foi” e “dominava”. Esse é o método mais simples para se identificar períodos e
orações.
Quanto aos processos de coordenação (parataxe) ou subordinação
(hipotaxe), em um texto podemos encontrá-los mistos na organização dos
parágrafos. Por isso, o que interessa é compreender como esses mecanismos
funcionam; além de saber identificá-los para a descrição linguística do texto.
Vejamos um exemplo:
Quando eu entrei no quarto/, abri a gaveta/ e descobri/ que o meu anel
sumiu.
Nesse período, que já se encontra segmentado pelas barras, vamos
verificar a relação sintática entre as orações. Para efeito de descrição,
chamemos de (a) a primeira, de (b) a segunda, (c) a terceira e (d) a quarta
oração.
Entre as orações (a) e (b) há uma relação de subordinação,
em que a oração (b) é principal em relação à (a) e esta equivale a uma
circunstância de tempo, e então se classifica como subordinada adverbial. A
oração (c) é coordenada em relação à (b), introduzida pela conjunção aditiva
“e”, daí sua classificação em oração coordenada sindética (aditiva). Já a
oração (d) corresponde a um sintagma que complementa a oração anterior (c), e
equivale ao objeto direto da oração anterior, portanto é uma oração subordinada
substantiva.
Isso posto, passaremos a tratar separadamente de cada tipo de processo
de organização sintática – coordenação e subordinação – para efeitos didáticos
de compreensão, lembrando que em um texto esses mecanismos diversificam-se,
havendo períodos, parágrafos em que ambos se encontram.
Período composto por coordenação
No período composto por coordenação, há uma independência entre as
orações pelo fato delas apresentarem-se completas, isto é, terem todos os
termos sintáticos previstos na relação predicativa (ao contrário das orações
complexas ou período composto por subordinação).
Todavia, embora não aparente, a coordenação é um processo mais complexo,
tendo em vista que muitas vezes envolve fatores semânticos e cognitivos, pois
se analisarmos, por exemplo, dois enunciados semelhantes, como:
(2) Estudei bastante e fui aprovada.
(3) Estudei bastante e fui reprovada.
temos dois exemplos que apresentam a mesma estrutura sintática. São duas
orações, havendo na segunda um conector “e” como ligação entre elas. No
entanto, observando-as semanticamente, no exemplo (2) a segunda oração tem um
valor positivo em relação à primeira, ao passo que no exemplo (3) a segunda tem
valor negativo em relação à primeira.
Para Bechara (2001), entretanto, essa conclusão não está no uso do
conector “e”, que, do ponto de vista sintático, tem por função adicionar uma
informação à outra. É esse o papel que exerce em ambos exemplos, portanto,
podemos entender que essa conjunção (=conector) é aditiva.
A gramática tradicional denomina “sindéticas” as orações que
têm conjunção, pois esta recebe também o nome desíndeton, daí a
denominação. E são essas conjunções coordenativas que designam a classificação
para as orações.
No próximo módulo veremos a classificação dessas orações.
Período composto por subordinação
O período composto por subordinação é também visto como uma oração e/ou
sintagma complexo, como define Perini (2005, p.148):
Chamaremos sintagma complexo um sintagma que encerra, como um de seus
constituintes imediatos ou mediatos, uma oração.
Se retomarmos o conceito de oração e seus constituintes que vimos no
estudo do período simples, verificaremos que em um período desse tipo as
orações que correspondem às subordinadas exercem funções dos sintagmas
representados por substantivos, adjetivos e advérbios.
Nesse sentido, afirma Perini (2005, p.149):
Em princípio, um sintagma complexo pode ocupar as mesmas funções que um
sintagma simples da mesma classe. (...) Assim, um SN simples pode ser sujeito,
objeto direto etc., e um SN complexo pode desempenhar exatamente as mesmas
funções.
Assim, a partir dessa noção de sintagma, podemos relacionar os grupos de
orações subordinadas às funções dos sintagmas que representam. As orações substantivas têm
funções exercidas pelo sintagma nominal, as adjetivas pelo sintagma
adjetival e as adverbiais pelo sintagma
adverbial.
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