sábado, 10 de novembro de 2012

Períodos composto por coordenação e por subordinação

Lembrando a hierarquia gramatical enquanto descrição da língua que, do menor para o maior elemento, varia do morfema ao texto (morfema – palavra – sintagma – oração/período – texto), veremos o período composto nesta unidade.

Como já vimos também, cada verbo pressupõe a existência de uma oração. Portanto, a partir de dois ou mais verbos, temos um período composto. Este pode ser articulado por dois processos: a coordenação e a subordinação.

O processo de coordenação diz respeito à organização em que as orações têm uma equivalência, isto é, há um paralelismo e não uma hierarquia de informações veiculadas pelas orações que compõem o período. Bechara (2001, p. 48) classifica esse processo como parataxe:

Consiste a parataxe na propriedade mediante a qual duas ou mais unidades de um mesmo estrato funcional podem combinar-se nesse mesmo nível para constituir, no mesmo estrato, uma nova unidade suscetível deste estrato. Portanto, o que caracteriza a parataxe é a circunstância de que unidades combinadas são equivalentes do ponto de vista gramatical.

Já no processo de subordinação, há uma hierarquia na qual existe sobreposição de uma oração em relação à outra, daí o conceito de oração subordinada em relação à principal. É o que Bechara (2001,p. 47) denomina hipotaxe:

A hipotaxe (...) consiste na possibilidade de uma unidade correspondente a um estrato superior poder funcionar num estrato inferior, ou em estratos inferiores. É o caso de uma oração passar a funcionar como ‘membro’ de outra oração, particularidade muito conhecida em gramática.

Ressaltamos, ainda, que os limites do período são estabelecidos por pontuações finais (., !, ?, ...). Assim, podemos verificar, primeiramente, o número de orações e de períodos no exemplo seguinte.

(1) Havia harmonia no ambiente. Os quadros estavam bem colocados, a mesa foi bem arrumada pela mulher e um perfume agradável dominava o ambiente.

Podemos dizer que há dois períodos no parágrafo e este é composto por quatro orações ao todo, sendo uma no primeiro período e três no segundo. Os períodos encontram-se delimitados pelos pontos finais, enquanto as orações podem ser localizadas pelos verbos “havia”, “estavam”, “foi” e “dominava”. Esse é o método mais simples para se identificar períodos e orações.

Quanto aos processos de coordenação (parataxe) ou subordinação (hipotaxe), em um texto podemos encontrá-los mistos na organização dos parágrafos. Por isso, o que interessa é compreender como esses mecanismos funcionam; além de saber identificá-los para a descrição linguística do texto.

Vejamos um exemplo:

Quando eu entrei no quarto/, abri a gaveta/ e descobri/ que o meu anel sumiu.

Nesse período, que já se encontra segmentado pelas barras, vamos verificar a relação sintática entre as orações. Para efeito de descrição, chamemos de (a) a primeira, de (b) a segunda, (c) a terceira e (d) a quarta oração.

Entre as orações (a) e (b) há uma relação de subordinação, em que a oração (b) é principal em relação à (a) e esta equivale a uma circunstância de tempo, e então se classifica como subordinada adverbial. A oração (c) é coordenada em relação à (b), introduzida pela conjunção aditiva “e”, daí sua classificação em oração coordenada sindética (aditiva). Já a oração (d) corresponde a um sintagma que complementa a oração anterior (c), e equivale ao objeto direto da oração anterior, portanto é uma oração subordinada substantiva.

Isso posto, passaremos a tratar separadamente de cada tipo de processo de organização sintática – coordenação e subordinação – para efeitos didáticos de compreensão, lembrando que em um texto esses mecanismos diversificam-se, havendo períodos, parágrafos em que ambos se encontram.

Período composto por coordenação

No período composto por coordenação, há uma independência entre as orações pelo fato delas apresentarem-se completas, isto é, terem todos os termos sintáticos previstos na relação predicativa (ao contrário das orações complexas ou período composto por subordinação).

Todavia, embora não aparente, a coordenação é um processo mais complexo, tendo em vista que muitas vezes envolve fatores semânticos e cognitivos, pois se analisarmos, por exemplo, dois enunciados semelhantes, como:

(2) Estudei bastante e fui aprovada.

(3) Estudei bastante e fui reprovada.

temos dois exemplos que apresentam a mesma estrutura sintática. São duas orações, havendo na segunda um conector “e” como ligação entre elas. No entanto, observando-as semanticamente, no exemplo (2) a segunda oração tem um valor positivo em relação à primeira, ao passo que no exemplo (3) a segunda tem valor negativo em relação à primeira.

Para Bechara (2001), entretanto, essa conclusão não está no uso do conector “e”, que, do ponto de vista sintático, tem por função adicionar uma informação à outra. É esse o papel que exerce em ambos exemplos, portanto, podemos entender que essa conjunção (=conector) é aditiva.

A gramática tradicional denomina “sindéticas” as orações que têm conjunção, pois esta recebe também o nome desíndeton, daí a denominação. E são essas conjunções coordenativas que designam a classificação para as orações.

No próximo módulo veremos a classificação dessas orações.

Período composto por subordinação

O período composto por subordinação é também visto como uma oração e/ou sintagma complexo, como define Perini (2005, p.148):

Chamaremos sintagma complexo um sintagma que encerra, como um de seus constituintes imediatos ou mediatos, uma oração.

Se retomarmos o conceito de oração e seus constituintes que vimos no estudo do período simples, verificaremos que em um período desse tipo as orações que correspondem às subordinadas exercem funções dos sintagmas representados por substantivos, adjetivos e advérbios.

Nesse sentido, afirma Perini (2005, p.149):

Em princípio, um sintagma complexo pode ocupar as mesmas funções que um sintagma simples da mesma classe. (...) Assim, um SN simples pode ser sujeito, objeto direto etc., e um SN complexo pode desempenhar exatamente as mesmas funções.

Assim, a partir dessa noção de sintagma, podemos relacionar os grupos de orações subordinadas às funções dos sintagmas que representam. As orações substantivas têm funções exercidas pelo sintagma nominal, as adjetivas pelo sintagma adjetival e as adverbiais pelo sintagma adverbial.

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