Para exemplificarmos, vamos iniciar por um período simples e depois
faremos sua correspondência a um período composto.
(6) O pedestre, muito tranquilo, atravessou a rua
tumultuada.
No exemplo (6), temos dois sintagmas de natureza adjetiva. O primeiro é
um sintagma autônomo, “muito tranquilo” e o segundo é um sintagma adjetival
interno ao sintagma nominal “a rua tumultuada”.
Observemos que uma forma de diferenciar o
predicativo do adjunto adnominal é essa característica do sintagma ser autônomo
ou interno. Ambos sintagmas adjetivais têm a função de modificadores do
substantivo, mas um constitui um sintagma independente e o outro encontra-se
dentro de outro sintagma.
Essa característica diferenciadora assegura-nos a classificação de
predicativo do sujeito para o sintagma autônomo “muito tranquilo” e de adjunto
adnominal para “tumultuada” no sintagma “a rua tumultuada”.
Esse mesmo período poderia ser transformado em um período composto:
O pedestre, que estava tranquilo, atravessou a rua que
era tumultuada.
Apesar da nova construção do período, manteve-se seu sentido e a
classificação para as orações é de subordinada adjetiva explicativa para
a primeira e de subordinada adjetiva restritiva para a
segunda.
A primeira oração, adjetiva explicativa, assim como o predicativo do
sujeito, corresponde a um sintagma autônomo, de natureza adjetiva. Já a
segunda, adjetiva restritiva, corresponde a um sintagma adjetival interno.
Do ponto de vista semântico, como afirma Sautchuk (2004, p.123):
Tanto no período simples como no composto, o predicativo do sujeito e a
oração adjetiva explicativa indicam um estado ou uma característica acidental
do núcleo (...); o adjunto adnominal e a oração restritiva indicam uma
característica intrínseca ao núcleo.
Como o sintagma que corresponde ao predicativo é
independente, autônomo, da mesma forma a oração adjetiva explicativa destaca-se
na oração pelo seu isolamento e isso é marcado pela pontuação, como o uso de
vírgulas, por exemplo.
Já a oração adjetiva restritiva, como o sintagma
equivalente (adjunto adnominal), não se apresenta isolada, ao contrário, está
diretamente ligada a um núcleo substantivo e, por isso, não se coloca entre
vírgulas (ou outro tipo de pontuação que a isole).
Alguns gramáticos até denominam as orações adjetivas de relativas, pelo
fato delas serem introduzidas por um pronome relativo (que, quem, o(a) qual,
os(as) quais, cujo(a), cujos(as), onde).
O pronome relativo, por sua característica anafórica, ou seja, de
retomada de um termo antecedente, exerce sempre uma função sintática na oração
que introduz.
(7) Encontrei o vídeo que procurava.
No exemplo (7), “que” é o pronome relativo que introduz a
oração adjetiva restritiva “que procurava”. Esse pronome pode, inclusive, ser
substituído por “o qual”. Além disso, está retomando “o vídeo”, sintagma da
oração anterior que tem a função de objeto direto. Então, se substituíssemos o
pronome relativo pelo sintagma anterior, como se fosse um período simples, a
oração assim ficaria:
Procurava o vídeo.
Nessa oração transformada, “o vídeo” complementa o verbo “procurava”,
para o qual o sujeito está oculto (eu). Portanto, “que” na oração
tem a função de objeto direto.
Orações subordinadas adverbiais
As orações adverbiais, assim como os sintagmas adverbiais,
têm a função de modificar o verbo, indicando-lhe uma circunstância. Dessa
forma, essas orações classificam-se de acordo com a circunstância que indicarem
em relação à oração principal.
Por exemplo, se tivéssemos a seguinte oração:
O cão dorme tranquilo.
Poderíamos acrescentar-lhe circunstâncias em forma de orações:
(8) Enquanto varro a sala, o cão dorme tranquilo.
(9) O cão dorme tranquilo onde há uma cama.
(10) O cão dorme tranquilo porque está cansado.
(11) Apesar de ser dia, o cão dorme tranquilo.
Observando cada exemplo, vejamos as circunstâncias que cada oração
acrescentada (que forma com a principal um período composto) indica para
classificá-las.
No exemplo (8), a oração “enquanto varro a sala” indica uma
circunstância de tempo em relação à principal, por isso a sua classificação é
de subordinada adverbial temporal.
Da mesma forma, no exemplo (9), a oração “onde há uma cama” indica o
local da ação da oração principal, daí sua classificação em subordinada
adverbial locativa.
Já no exemplo (10), a circunstância indicada pela oração subordinada é
de causa em relação à informação da oração principal, por isso trata-se de uma adverbial
causal.
Finalmente, no exemplo (11) há ideia de concessão (ou contradição na
lógica) introduzida pela oração. Esta se classifica como oração subordinada
adverbial concessiva.
Assim, é a ideia circunstancial que determinará a classificação desse
tipo de oração, como pudemos observar em cada exemplo. Essa ideia, se estivesse
expressa em período simples, seria estabelecida pela relação sintática de um
adjunto adverbial na oração. É por esse motivo que as orações desse grupo são
denominadas adverbiais.
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